segunda-feira, novembro 24, 2008

Raiz...apego


Não quero quimeras, utopias...quero sonhos. Abraçar o sonho que almeja, correr por entre os campos, saborear a liberdade de ser! Não quero o quase, quero o além. A cegueira que teima em aparecer, será apenas névoa passageira, quando correr pelos prados... Corro desenfreadamente pelo campo aberto, que me é oferecido, páro junto ao carvalho secular que se ergue, preso às raízes. Estou no alto do meu lugar, avisto a minha terra, vejo o vale que se estende, sento-me no chão, sinto o apego à raiz mais forte. Olho para o cimo da árvores vejo os seus ramos, as suas folhas, o tronco forte, e penso: "cada folha tua tem uma história inscrita, o tronco revela a robustez, os ramos, as várias ramificações que tiveste de ganhar para fazer frente aos inúmeros obstáculos que te apareceram, mas a raiz permanece indestrutível." Uma analogia ressaltou e disse de mim para mim, no fundo somos todos como esta velha árvore. Saimos do apego, do aconchego do lar e da terra que nos viu nascer. Andamos mundo fora, a lutar pelos nossos ideais, a quedarmo-nos, a erguer-nos, a inscrever experiências de vida nos nossos percursos, a abrir caminhos, a fortalecer-nos, mas sempre com o chamamento da raiz.

Ah! e a saudade ímpera, toca-me de leve, sobranceira apela ao retorno e eu digo-lhe: "vou-te beijar em breve, sentir o teu cheiro, retemperar forças, avistar-te." E fico reconfortada por considerar que em breve poderei ver a minha gente, sentir o cheiro a aldeia, à minha aldeia. No entretanto, deixo-me embalar pela brevidade...

quarta-feira, novembro 19, 2008

Talvez...

Talvez... talvez seja amor que se encerra em mim e me corrói, que me faça saudosista.
Talvez seja essa ânsia de vos voltar a abraçar em breve que torne louco este frenesim, esta correria entre mim e o outro que permanece em mim. Certezas tenho poucas, neste instante que se ergue sobre o sol outonal. Ah! e por falar em Outono, como amo a loucura das cores que a natureza me oferece. Olhar o rio que me é oferecido por entre a leveza das árvores que se despem para se renovarem. E o suspiro sai celere na hora de te dizer: "amiga, já falta pouco para voltarmos a abraçar-nos" e move-nos sempre a esperança... e move-nos a verdade, que alguns ditam não nos ajudar a vencer, mas que continuamos a içar como a nossa bandeira. E o telefone toca, mais e mais uma vez, não há dia em que o pensamento não se perca num momento telepático, será porque vivemos tanto e tão pouco simultaneamente? Perdidas nas imagens de há uns meses atrás agarramo-nos a elas com a sofreguidão de sabermos que o encontro será vivido intensamente, como todos aqueles que partilhámos.
E a noite cai, os pulmões enchem-se de ar, os olhos quedam-se no horizonte, vão-se fechando, deixando que o ser se eleve na contemplação silenciosa. E nesta contemplação ergue-se a tão fundamental introspecção...

quinta-feira, novembro 13, 2008

Lembrar...

Prometi-te em vida, lembrar-me de ti sempre… aqui me confesso, aqui reconheço recordar-me do teu sorriso, dos teus ensinamentos, da tua lição de vida, principalmente quando a noite cai. Disse-to inúmeras vezes, adoro o silêncio da noite, escutar a lua, deixar-me abraçar por ela e assimilar os seus conselhos. Um gesto, uma palavra, um local, o cheiro a terra molhada, coisas simples, fazem-me recordar-te no teu auge. Não que o teu auge tenha esmorecido, apenas porque partiste, mas porque te tinha ali para te abraçar, para dar dois dedos de conversa, para discutir assuntos que se perderam em nós. Sentimentos, vivências que guardo, que só nós dois sabemos, que mais ninguém escutou e que coloquei na janela do meu coração que só a ti pertence, que não abro, para a manter, assim, intocável. Ficarias feliz por me puderes ter mais perto de ti, de puderes estar mais tempo contigo, de me abraçar, de me ver subir as escadas ao ritmo alucinante do “que saudades”. Quis a vida tirar-te o sopro mais cedo do que seria desejável, deixando-me no triste luto de não ter ainda conseguido chorar-te. Esta época é-nos particularmente querida, pelo Inverno que chega, pela lareira que se acende, pelo cheiro a terra molhada… O simples, os momentos fugazes que eternizamos continuam presentes… Aquelas palavras, lentamente soletradas, em jeito de despedida, estão gravadas de tal forma que nada as apagará. Palavras sentidas que prendi para não mais as soltar. O beijo frio da despedida, anunciou a ida, mas tatuou-as mais profundamente.
Devo-te o sonho… e porque foste o meu apego à raiz: que a água corra pelo rio, procure o seu destino, que se cruze com as rochas e as vença. E como dizíamos cantando: “se ser é poder, então lutemos…mas não façamos das nossas armas ferramentas de destruição.”

segunda-feira, novembro 10, 2008

O Louco de Kahlil Gibran


Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:
um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas -e corri sem máscara pelas
ruas cheias de gente, gritando:
"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram
para casa, com medo de mim E quando cheguei à praça
do mercado, um garoto trepado no telhado de uma
casa gritou: "É um louco!".

Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e
minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras. E, como num
transe, gritei:

"Benditos, bendito os ladrões
que roubaram minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:
a e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual
que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

domingo, novembro 09, 2008

Rosto de menino...

O despertador é saturante… foi com este pensamento que acordei hoje de manhã, depois de uma semana de trabalho que se estendeu pelo dia de sábado. Levantei-me, ensonada, cansada, com a visão toldada, ainda, pelas novidades de seis dias ininterruptos. Peguei no carro e lá fui rumo a uma pequena Vila próxima, onde me esperava uma lareira cheia de gente à volta. Um almoço de confraternização, mas o olhar teimava em pousar-se naquele ser pequeno. Às vezes acho que sou demasiado lamechas, demasiado preocupada, sempre atenta aos pormenores e demasiado severa comigo própria. Mas adiante, o Duarte tem 8 anos, grandes dificuldades a nível de escrita e consequentemente de leitura. É um aluno difícil, está constantemente distraído, chega a ser mal-educado não em palavras, mas em comportamentos, é rude com os colegas de escola. Quando está junto de pessoas que conhece há muito tempo, tudo faz para ser o centro das atenções, foge, esconde-se, chateia, responde de forma bruta… Hoje, passeávamos pelas ruas da pequena Vila, quando uma senhora que há muito não via a mãe do Duarte, se aproximou de nós e lhe perguntou: “então Duarte andas a passear com a mãe? O pai, ficou em casa?”. Foi difícil suportar a dor que se espelhou no rosto desta criança. Sem delongas retirei-me com o Duarte para um café, com a desculpa de que lhe tinha prometido comprar uma guloseima, enquanto deixava a mãe a falar com aquela senhora. Durante a tarde o Duarte fechou o rosto, começou a ter comportamentos mais bruscos do que os habituais, a fazer perguntas de difícil resposta. A que me custou mais responder terá sido: “porquê é que toda a gente conhece o pai e eu não?” Esta pergunta mereceu-me a singela resposta: “o pai e a mãe chatearam-se quando nasceste e o pai foi trabalhar para fora, mas um dia ele virá ver-te.” Nunca estamos à espera que uma resposta suscite uma catadupa de questões como as que se seguiram: “mas ele nunca me liga, nunca fala comigo por telefone, nunca me mandou um presente. Lá onde está, não tem telefone?” Só tive coragem de dizer: “se calhar é isso Duarte, se calhar onde está não tem telefone.” Confesso ter-me sentido perdida com as justificações que procurei dar-lhe. O Duarte preocupa-me, assim como o seu futuro. Não nego que a mãe tem feito o melhor por ele, que tem sido uma boa mãe dentro das suas possibilidades, mas preocupa-me a realidade em que vive, as dificuldades que apresenta na escola e nas relações interpessoais. A mãe do Duarte tem um pequeno atraso, não sabe o verdadeiro nome do pai, no momento em que descobriu estar grávida, o companheiro abandonou-a, sem nunca mais dar noticias. No Natal do ano passado ofereceram-lhe uma bicicleta, aqueles olhinhos encheram-se de lágrimas, ficou parado em frente a ela e não disse nada. A felicidade espelhada naquele rosto deixou o coração pequeno. Este ano, no dia do seu aniversário decidi dar-lhe uma colecção de livros, e fiquei perplexa com as dificuldades de leitura que apresenta, reparei que não consegue estar concentrado a fazer os exercícios, que os faz bem se estiver alguém sentado ao lado dele a ler as coisas com ele. Foi a um oftalmologista e não tem problemas de vista, falei com a mãe para o levar a um psicólogo, dado que os comportamentos na escola têm vindo a piorar. Hoje, voltei a falar-lhe na urgência de o levar a um psicólogo, mas a resposta peremptória “para quê? Ele não é maluco, não tem nenhum problema”, desarmou-me. Agora, em casa, sentada em frente à lareira acesa, quedo-me qual errante pensativa, adivinhando-lhe o rosto de menino que busca encontrar em si as respostas às confusões que se debatem na sua mente…

quarta-feira, novembro 05, 2008

Obama...a esperança


Fez-se história... Pela primeira vez, nos Estados Unidos da América, elegeu-se um presidente negro. O mundo rendeu-se à Obamania, ergue-se de esperança. Os olhos viram-se para ele, anseia-se que seja o redentor da crise financeira. Será árdua a tarefa de erguer das cinzas o capitalismo. Ninguém lhe negue perfil. Um perfil que faz recordar Kennedy, não apenas pelo discurso que proferiu em Berlim, mas pela conspiração, não consumada, de tentativa de assassinato. O páis une-se à volta daquilo a que Oprah Winfrey, uma das suas maiores apoiantes e que terá conseguido uma percentagem significativa de eleitores, apelidou de "um país onde predomina o púpura", venceram-se os racismos e as xenofobias. Espera-se a tão ansiada cooperação com a nações, como caminho a seguir; que se impeça a construção de novos "muros entre os povos", que não haja lugar a distinções religiosas.
Conseguiu unir povos na luta pela eleição, criar esperança, no futuro, no pós-Bush e juntar um multidão de pessoas no Grant Park de Chicago. Aguarda-se que cumpra a promessa de retirar as tropas do Iraque nos primeiros 16 meses do seu mandato, porque já chega de derramar sangue de inocentes, de continuar uma guerra que se construiu sobre falsos alicerces, onde imperaram muitos interesses económicos. Acredito em Barak Obama, rejubilo na esperança de um discurso que vos apresento, em parte, aqui.
"Foi a resposta dada por jovens e velhos, ricos e pobres, Democratas e Republicanos, negros, brancos, latinos, asiáticos, homossexuais, heterossexuais, deficientes, americanos que enviaram a mensagem ao mundo de que não somos somente um conjunto de indivíduos ou um conjunto de estados vermelhos ou azuis. Fizeram-nos porque perceberam a enorme tarefa que nos espera. Porque apesar de celebrarmos esta noite, sabemos que os desafios que o dia de amanhã nos trás são os maiores da nossa vida – duas guerras, um planeta em perigo, a pior crise financeira num século. Apesar de estarmos aqui esta noite, sabemos que existem americanos no deserto do Iraque, nas montanhas do Afeganistão que arriscam as suas vidas por nós.
Há mães e pais que não conseguem adormecer e que ficam a pensar como pagar as hipotecas ou as contas do médico ou se conseguem poupar o suficiente para a educação dos filhos.
Temos de rentabilizar a nossa energia, criar novos postos de trabalho, construir novas escolas e lidar com ameaças e reparar alianças. Vamos unir-nos num novo espírito de patriotismo, de responsabilidade, em que cada um de nós resolve participar e trabalhar mais e olhar não só por nós mesmo mas também pelos outros.
Não nos esqueçamos que se a crise financeira nos ensinou alguma coisa foi de que não podemos ter uma Wall Street florescente enquanto que os outros sofrem.
Neste país, levantamo-nos e caímos como uma nação só, como um povo. Resistamos à tentação de voltar a cair no mesmo sectarismo, mesquinhez e imaturidade que envenenou a nossa política durante tanto tempo."