terça-feira, dezembro 30, 2008

Obrigada

Nos próximos dias estarei ausente. Não estarei propriamnete fora do país ou da localidade em que resido, mas estarei ausente para pensar. Preciso de umas doses de solidão para reflectir, acalmar, mas acima de tudo para procurar reencontar uma parte de mim que teima em desaparecer. Não consigo habituar-me ao grau de falsidade que impera por estes lados. Começo mesmo a acreditar que sou eu quem está errada. Mas se o estou estive-o sempre e talvez por isso se apresente fundamental um distanciamento de mim e de todos aqueles que fazem parte, de alguma maneira da minha vida. Preciso de tempo, de sossego e ausência de palavras que me indiquem caminhos, me mostrem trilhos, me apontem direcções. Sou, de facto, um bocadinho errante, para não dizer muito. Habituamo-nos depressa à errância, mas não nos habituamos tanto às nossas falhas. Confesso que ainda hoje, depois de já ter massacrado a cabeça com isso, não sei onde falhei ou se falhei. Mas isso é de somenos importância agora. Terei com certeza falhado, mas o que me dói mais é ter falhado não só por mim, mas por ter falhado por outras pessoas. Gostaria que findo este processo alguém tivesse tido a ombridade de me ter dado algumas palavras, que me tivesse dito alguma coisa, no entanto, desde que ajamos de acordo com a nossa consciência mal nenhum nos pode ser apontado. Saio desta viagem com a sensação de não ter sequer iniciado. Não me fere a saida, mas o gesto pouco ético e inestético de quem ousou dá-lo, esquecendo humanidade e frontalidade que tanto apregoam. Fere-me que se guiem por máximas de "mais e melhor" e na prática não sejam capazes de dar o exemplo. Que exemplo pode ser dado, quando nos escondemos atrás de uma qualquer carta ou e-mail e não temos a frontalidade suficiente para dizer o que se passou, qual o motivo que nos levou a? Não, nesta altura do campeonato, como já te disse, não quero saber o motivo, tão pouco o porquê, o que havia a ser dito foi dito no dia 23 deste mês, marcando indelevelmente o fim de ano, mas acima de tudo, destruindo a vontade de viver o Natal. Se considerarmos isto um gesto de sensatez e tentativa de melhoramento, então confesso-me profundamente confusa com os valores que imperam. Agradeço o convite para uma saida à noite, para um jantar, para um lanche, mas como já te disse, não posso ir, esgotaram-se as forças para continuar a fingir que está tudo bem, que sou uma "fortaleza" e não quero palmadas nas costas. Custa-me ainda saber que recusei ir para outros locais, e tive opção por dois, ainda há três semanas para agora me ver a braços com a sensibilidade deturpada. Sinto que foi em vão o esforço, que falhei como pessoa, como profissional neste últimos meses, coisa que nunca antes me tinha acontecido. E neste momento só quero esquecer, apagar a memória, encerrar um capítulo. Peço-vos, como tal, que deixem de me ludibriar, de tentarem criar em mim falsas expectativas, porque não pretendo continuar a adivinhar-me na incerteza do que desde há muito é certo. Quero terminar a guerra que não iniciei, sem ter de oferecer a bandeira da paz, porque estou convicta de que quem as inicia é que as deve oferecer, ainda que muitos possam apregoar que gestos que são seus, palavras que são suas, foram de outros. Não me interessa o que pensam ou poderão pensar ou virão a pensar, interessa-me encerrar de forma segura, sem mágoa ou dissabores este capítulo da minha vida. Talvez para isso tenha de me afastar deste local, repleto de paisagens naturais de rara beleza, mas se tiver de o fazer será o menos, para mim, sempre habituada a saltar de lugar para lugar. E nisto ninguém me pode apontar, porque nunca fiz da vida um mar de rosas, nunca cantei segurança, nunca tentei passar a perna a ninguém, nem menti para ser vista de outra forma, nunca me vitimizei e não será agora que o farei. Não será agora que penalizarei quem quer que seja, ainda que o pudesse fazer, mas não o faço porque não faz parte de mim. Não quero igualar-me ao nível dos que nunca tiveram senão vida fácil, aos que nunca tiveram senão que dizer estou aqui para que as portas se abrissem. Se um dia me vir além, será por mim, apenas pelo que sou capaz de realizar que lá estarei, não porque disse a alguém colocado no local certo: estou aqui. Na vida há dois tipos de pessoas as que o são e as que se perderam nesta construção. Não fui eu nunca que ousei dizer "palavras menos próprias, insultar pessoas, mandá-las para sitios menos próprios" em locais públicos. Mas ainda assim escutei-os, sem dizer palavras porque não queria ser igual. Enerva-me que mesmo depois disto não consiga senão sentir pena dela...sou assim... Nesta ausência que espero seja o mais breve possível, espero para a semana regressar aqui, quero fechar as cortinas do meu quarto ao mundo, e abri-las para outro mundo. E fico a desejar sair daqui para outro local.
A vós, e sabeis quem sois, o meu sincero obrigada e desculpem não ter tido capacidades para ir mais além.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Reencontro

Volveram já cinco anos...findos os quais voltei a reencontrar um dos amigos mais queridos e acérrimo defensor de causas que outros davam por perdidas. São as coisas boas que a internet tem. A persistência deu frutos, depois de muitos anos a procurar pelos amigos, finalmente encontrou-me. Perguntaram como se hoje há telemóveis? Pois, é verdade, mas os números alteram-se e cada um vai seguindo a sua vida. E hoje, estava eu a vasculhar a minha caixa de correio electrónico e dei-me com um nome pouco habitual na minha caixa. Ainda estive para apagar o e-mail antes de o abrir, receava que se tratasse de um vírus, mas não sei porquê, decidi abri-lo e ainda bem que o fiz. Li as palavras escritas e sentidas, porque quem escreve assim escreve com coração e fiquei ali, presa, a relembrar momentos que jamais poderão ser esquecidos porque foram vividos com uma intensidade tal que não podem apagar-se. Ainda por cima quando temos à nossa frente um dos causadores do meu enlace, não tivesse sido ele, um dos melhores amigos, ao longo do curso do "Sincero". O sorriso que o "pêras" tinha, saltou à lembrança, defazendo o rosto em lágrimas felizes, porque voltei a viver a esperança que nunca me abandonava, a despertar sonhos que aclamava como um facho a arder. Pude verificar que, de facto, o tempo passa, os contactos perdem-se mas os amigos nunca se esquecem. Fiquei ainda mais certa de que o que vivemos, o que fizemos uns pelos outros, o que edificamos em conjunto, as partidas, as lágrimas e os sorrisos não se esqueceram nunca. E tudo isto porque veio visitar este blogue sem querer e conseguiu adivinhar-me neles. Não tivesse eu falado da minha terra :)
Mais curta a distância é hora de aproveitar este reencontro. BOM 2009, que este fim de ano de 2008 proporcionou-me, felizmente, uma luz :)

sábado, dezembro 27, 2008

2009

No fio da navalha, corre o sangue da ferida que se abriu mais recentemente. Corre nela a vontade de romper as correntes, da mesma forma que rompi o ventre de minha mãe. Quiseram fazer-me prisioneira do meu próprio mundo e nessa altivez me coloquei, reconhecendo no agora a dificuldade de encarar, cada vez mais, os gestos de carinho. O abraço que se solta, a palavra que se escuta, o beijo que é dado, soam-me a falsos e por entre a clarividência que ainda me resta, enredo-me na minha teia. Não quero sair dela, porque tornou-se meu porto de abrigo... Sento-me em frente à lareira, para fazer frente ao frio que se faz sentir lá fora, mas simultaneamente na esperança que aconchegue o interior que se esvaziou um pouco mais no inicio da semana passada. Mais uma vez os meus princípios foram mais fortes do que eu, mais uma vez o país das cunhas me venceu, mais uma vez presenciei que o parecer vale mais do que o ser, que a ignorância continua a vencer a inteligência, que quem dorme à sombra fica ao sol, mais cedo ou mais tarde, que não vale a pena dizer o que está mal, a não ser que o factor C seja inabalável. Só o fim de semana me permite ser eu.
Porque 2009 se avizinha, resta-me desejar a todos o que desejo para mim, que apesar das inúmeras vicissitudes da vida, não deixem que as quedas vos esmaguem. Que 2009 vos traga sorrisos renovados, que consigais fazer dos obstáculos pontos de apoio para ir mais além, que a vontade não desapareça, e que os projectos possam começar a tornar-se uma realidade!

terça-feira, dezembro 23, 2008

Natal...


Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dadoDedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos

—Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai

—Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte

—De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.


Vinicius de Moraes

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Fizeram de ti criminosa...

Chora a alma, enlevada no breu…A vitimização não faz parte do seu rol de conceitos, erraticamente caminha por entre a multidão que se ergue sobranceira. Cai e ninguém a vê, talvez porque não seja aquela cujas capacidades e personalidade mais lhes diga. Nunca disse não a nada, escutou palavras de pouco apreço e hoje chora, na certeza de que não valeu..
Fecha-se em si, enreda-se na sua teia, teme sair à rua, ver caras, receia ter de dizer um olá. Vive sem viver, tão pouco sobrevive. Os dias discorrem cinzentos, alguns, negros, outros. Os olhos turvos da dor, o corpo pesado pelo jugo do medo, impedem-na de sair de si. A frieza dos gestos tomam forma, começa a ser tarde demais para ter forças para caminhar erecta. Olha à volta e verifica se pode estar ali, sozinha, sem nenhuma voz conhecida, sem que haja por perto algum rosto familiar. Fazem-na crer que é uma criminosa…
Deseja que as luzes de Natal se apaguem, que o frio gelado da noite lhe gele o sangue, que o sopro se dê por findo. A raiva é inexistente, a tristeza não sabe o que seja, só está presente a ânsia de apagar a memória, de começar do zero. Mostraram-lhe ou quiseram mostrar-lhe que os labirintos não têm fim, que se tem de esconder do mundo e como o caracol começou a pôr-se à sombra da concha. Hoje, a concha fria, serve-lhe de capa, de esconderijo em todos os momentos. O sorriso desapareceu, os sonhos foram-se e nas mãos lê a sinuosa sina de que o talvez se perde na certeza do incerto…
Porque apesar de outros irem, ela esvaziou-se, porque não marcou os seus próprios passos na areia… o pensamento não deixou a palavra sair e receia, receia tudo, inclusivamente as vozes dos amigos do outro lado da linha. Onde forem, ela já não terá forças para ir. Não pode voltar atrás, não pode dormir sem a tormenta dos seus fantasmas, não há imagens que perdurem mais do que alguns segundos e presa na corrente não consegue sair dela.
Amanhã levantar-se-á sem fulgor, sem vontade de caminhar, andará pelas ruas da cidade à espera de não encontrar os tais rostos familiares. E nestas voltas e voltas, o regresso a si não existe… Esqueceu o calor da lareira, o colo dos seus, deseja que os embrulhos colocados perto da árvore de Natal desapareçam de lá, levanta-se do sofá, colocado à frente da lareira e diz querer que o sinal de amor, de união, de verdade, que para si a árvore de natal representa, seja desmanchada. Pede que o sono a cale, que a vergonha desapareça.
Amanhã levantar-se-á desejando apagar-se da memória que tem de si e que outros lhe deram, não quer montar o puzzle constituído por inúmeras peças soltas. Desejará entregar as armas que depôs desde que se mudou para o local de eleição, mas que ousaram apontá-la como a melhor manobradora destas ferramentas. A vontade que impele a continuar quebrou-se, não há projectos ou sonhos, e pergunta-me: porquê amiga, porquê criar sonhos, idealizar projectos, comprar as minhas coisas, pensar no amanhã se num segundo tudo cai por terra? E porque me apontam como uma criminosa?
A lágrima solta-se mais uma e outra vez e dou por mim a dizer-lhe: corre-lhes nas veias sangue velho, moldaram-te e agora lançam-te às feras, tiraram-te a vida sem tirar e como foi isso possível não o sei. Perdi demais os teus momentos, nãos os acompanhei e recrimino a escolha de não ter ido além, de não te ter levado comigo… na sana loucura.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Amigo...

Hoje, deixo que Alexandre O´Neill (poema a seguir) fale por mim, ansiando que as suas palavras vos toquem o coração, como tocais o meu.
A amizade, aquela que é verdadeira, mantém-se para além da distância física, do tempo que passa, dos meses ou mesmo anos em que não nos vemos, porque sabemos que passe o tempo que passar, sempre que precisamos temos uma porta aberta por onde entrar. Os meus amigos, não foram escolhidos, escolheram-me, porque me mostraram, no negrume dos meus dias, o caminho que devia seguir e fizeram dos meus sonhos, das minhas alegrias e esperanças as suas. Caminharam sempre comigo, lado a lado, nos momentos felizes, sorrindo largamente, na tristeza acompanharam os meus passos, erguendo-me ou pelo menos tentando sempre fazê-lo quando a queda era uma realidade. Os meus amigos são aqueles que o tempo não apaga, a memória não esquece e por quem o meu coração bate. Os meus amigos são a palavra mais doce que consigo soletrar, que enchem de brilho o olhar quando falo deles, são aqueles que nunca deram ouvidos ao que outros lhe diziam, mesmo que esses fossem seus superiores, porque me sabem, me conhecem. São aqueles que não olvidaram esquecer quem eu sou para subirem na vida, não me apagaram do seu seio e me amam pelo que sou, fui e serei. Sabem que não abdico dos meus princípios e que corro velozmente para os seus braços quando posso. O meu amigo é parte de mim, é meu sangue, por isso brindo a todos vós. A todos quantos me acompanham vida fora, alguns há muitos anos. Não sois muitos, mas sois os meus eleitos.
Porque sim, porque vos adoro e sois o meu sol nos momentos de invernia profunda, desejo-vos um FELIZ NATAL!



Amigo
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa.

Alexandre O'Neill

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Por mais que tente...

Por mais que tente, procure ser feliz neste “éden” (assim o apelidam alguns) não consigo. No que busco não posso ser… e isso dói, não mata, mas vai-me corroendo, deixando-me hirta, sem vontade de acordar e rir. Perdi o sorriso que me caracterizava, deixei de falar, porque vi não o poder fazer. Falo do supérfluo, do que não importa, procurando evitar que as palavras sejam interpretadas como dá jeito a alguns. E nesta teia vou-me enredando, sem encontrar forma dela sair. Não me sinto eu, segura ou certa do caminho que escolhi aceitar… e quedo-me nas horas loucas do meu silêncio, na ira que sai nos momentos em que posso ser, efectivamente, eu. Já não sei o que é tomar um café descansada, sem recear que me vejam ali em amena cavaqueira ou a folhear um qualquer jornal, mesmo que não esteja nas minhas horas de laboração, que digam que sou ou que faço o que não fiz. Sempre disse amar o Norte, apesar deste ser o primeiro ano em que por aqui fiquei a trabalhar, mas se é isto que me é oferecido, quero levantar asas e punir-me na solidão, mas poder ser eu, encontrar-me de novo. Fecho-me em mim, fecho-me em casa, penso para falar, quando falo, fico calada à espera que a consciência se indague se devia ter dito/escrito aquilo, se não irei “levar” na cabeça porque interpretaram, mais uma vez, as coisas como entenderam. Sinto-me triste, invade-me uma revolta imensa, dói-me a alma e turvo começa a ficar o pensamento. Não há espontaneidade possível, pareço uma criminosa que escolhe os locais, neles tem de ver qual é o local mais escondido para evitar que a vejam nos seus momentos de lazer, ver se passa alguém conhecido, justificar o porquê de ali estar… Confesso-me cansada, se para viver a minha vida tenho de a viver em função dos outros, que não conheço, não pretendo conhecer, então não quero vivê-la. Então, prefiro a solidão, a vida de eremita a que me fui habituando, voltar a sorrir, mas acima de tudo a deixar de ter medo de ser quem sou. Detesto as fugas à responsabilidade, que se aponte o dedo sem se ter conhecimento de causa, que se saiba de tudo ou pelo menos se diga saber quando nada sabem. Abdiquei de mim para estar aqui, abdiquei de sonhar, para ser a temerosa rapariga que receia o olhar de terceiros.
Deixei de ter vida própria, de viver a minha vida, os meus objectivos, de opinar, porque há quem o faça por mim. Se há quem o faça por mim, se tanto sabem, se têm o dom da omnipresença de que me serve servi-los? Não poderão afinal estes olhares que tão atentos se mostram e sabedores, ao mesmo tempo, fazê-lo por mim? A inveja é coisa feia, bem o sei, mas, neste momento, invejo o meu Kiko (meu gato) e desejava poder vestir-lhe a pele. Não procuro aplausos ou elogios, apenas que me deixem alguma coisa para eu viver, que não queiram viver tudo por mim e em meu nome….

domingo, dezembro 14, 2008

somente eu


Sentada em frente à lareira, deixo-me levar pela imaginação e dou-me conta que as paredes da casa são de pedra, não que sinta frio, mas são as paredes da casa da minha infância. Corro à janela e vejo a serra que meia encoberta pela neblina se ergue. Está frio, mas isso não me impede de abrir a janela. Ponho o nariz fora da janela, fica quase congelado, mas sinto-me bem, sinto o cheiro da minha terra, da minha gente. Saio pela porta e corro, desenfreada pelos caminhos da aldeia. As casas estão cheias de gente, vejo o fumo que sai das chaminés, páro a cada porta e vou cumprimentado as pessoas. Estou feliz, estou no meu meio, cresço ao ritmo da lealdade, da sinceridade, das travessuras próprias da idade, da entreajuda entre colegas, do respeito por cada um e pelos mais velhos. Sento-me junto de uma das pessoas idosas da terra e deixo que ela me faça viajar, com as histórias de tempos idos. Embala-me o tempo, aquele que já foi meu, o que eu tomo como meu pelas histórias que me contam e aquele que hoje é meu... De repente os olhos abrem-se, faço o mesmo percurso, mas já não vejo o mesmo. Sinto um apego mais forte, mas já não páro a cada porta, já não vejo o fumo a sair das lareiras. É a desertificação que teima em vencer... Em mim não mora a desertificação, reina a memória eterna de tempos que ficarão para sempre gravados no meu coração, que me encheram de ensinamentos, me fazem sentir honrada pelas minhas humildes origens. Corri mundos, crei-os, moldei-os, mas foram eles que fizeram de mim aquilo que sou hoje. Na mão que estendo um pedaço desta(s) histórias(s) se abre, na frase que se solta, um pedaço de muitos mundos feitos de histórias das várias gentes, das minhas gentes, se revela como se fossem também minhas. Porque eu quis e quero saber quem sou, porque não quero esquecer donde vim e anseio caminhar vida fora ciente de mim e dos outros, porque no amanhã que hei-de abraçar quero ver as minhas raizes sempre por perto, desfolhar o que dei de mim e me deram. Não quero adormecer no silêncio do que não ouvi, olvidar o que não vivi, quero questionar o depois, não dizer adeus...porque eu sou "somente eu"...

quinta-feira, dezembro 11, 2008

...

Ideias? ou vazio?
Gosto de brincar com as palavras, da mesma forma que, na minha infância, gostava de brincar com a terra. Não consigo explicar esta minha paixão pelos trocadilhos, não mo ensinaram, até porque nunca tive Latim, mas olho para elas e o meu cérebro vai-as desconstruindo. Quando me falam em ideias, fico reticente porque entendo que a palvra ideia pressupõe acção, inovação, postura crítica e indagante. A ideia não nasce connosco, constrói-se na busca incessante de nós mesmos e do mundo. A ideia cresce com a avidez, da mesma forma que o sonho, o desejo de ser ou fazer alguma coisa nos faz caminhar em direcção à sua consecução. Hoje descobri uma ideia nova (aqui a ironia não pode faltar) de que os meninos (alunos), coitadinhos sofrem (e esta é nova para mim) de ataques de fúria. Haja paciência... São tantos os nomes que se dá à falta de educação e regras, que a alma se perde... Não bastava a hiperactividade, tantas vezes mal detectada, as dislexias inúmeras, as desortografias, os desnuméricos (trocam os números), ainda temos os "ataques de fúria"... Ai, ai... e assim caminhamos firmes, hirtos e algo humilhados (será que estou errada?).

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Falando por mim...

Hoje deixo que falem por mim, assim:

"Enquanto vivermos entre os seres humanos, seremos aquilo que os seres humanos considerarem que somos. Passamos por velhacos ou manhosos quando não paramos de perguntar a nós próprios como nos vêem os outros, quando nos esforçamos por ser o mais simpáticos possível. Mas entre o meu eu e o do outro, existirá algum contacto directo, sem a mediação dos olhos? Será pensável o amor sem uma perseguição angustiada da nossa própria imagem no pensamento da pessoa amada? Quando deixamos de nos preocupar com a maneira como o outro nos vê, deixamos de o amar."
Milan Kundera

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Loucos e Santos


Partilho, hoje, convosco, um poema que partilharam comigo e que me tocou...


"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero respostas, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade
sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto,
e velhos, para que nunca tenham pressa.Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril."


Oscar Wilde

sábado, dezembro 06, 2008

"Castigo em forma de aplauso"

Com a porta entreaberta, escutei-te, deixei que falasses... Mas não consegui dizer-te uma palavra. Com a cabeça consenti ou neguei, mas fiquei-me por aí. Não podia, a personalidade não me deixa, olhar-te com os mesmos olhos, falar-te com a mesma alegria como te falei meses antes. Antes o sol encandeava o olhar e eu não via ou não queria ver. Hoje, deixo que a distância oral e física fale por mim. Não, não estou zangada contigo, estou zangada comigo, por me ter permitido acreditar.
E o acreditar, este, como tantos outros, não é mais do que o querer, o desejar ter esperança suficiente no ser que se desvela, encontrar alguma segurança no passo que se dá, ter alguém (um amigo) capaz de lhe conferir identidade. Porquê? porque somos seres sociais por natureza, porque não nascemos para estarmos sós, mas temos e devemos estar sós no momento em que assumimos as nossas responsabilidades, como dizia Sartre. Neste momento, o meu momento, estou só, na reflexão que se desenha na distância necessária para fazer uma restrospecção e avaliar formas de lidar contigo, sem te ferir na "mimalhice" de quem dorme à sombra do " o outro faz", e recebes o "castigo em forma de aplauso".
Nem tudo o que é justo é ético, nem tudo o que é ético é justo, mas quando o desiquilibrio entre o justo e a ética causa dano na pessoa, a produção fica ameaçada...

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Persona

Hoje, olhei-te mais profundamente, dei-te a conhecer uma parte de mim que poucos conhecem. Encerro-me em mim, cada vez mais, como uma concha que teimosamente se dobra sobre si mesma. Esculpo as palavras, faço delas os meus cinzéis, durmo com o silêncio do pensamento sussurante.
Acordo com a sensação de que vais estar lá para me fazeres sorrir... quando olho ao redor e não te vejo, foge-me o chão e sei que tenho de pôr a máscara uma vez mais. Visto a persona e silencio o que a alma traz, procuro a caneta e deixo-me embalar pela música que toca na rádio. Quero fechar os olhos, transportar-me para outro mundo, sair dali, deixar pairar o eu. Mas eis que sou interrompida pela brusca voz que se levanta no horizonte. Escuto mais uma vez as mesmas palavras, respondo, dando às palavras o sentido que a "voz" quer escutar. Olho o céu, peço à noite que desça para me aconselhar, acalmo, para dentro, o mandamento que fere e espero que voltes o mais rapidamente possível.
Já é noite, deixo-me enlevar pelo abraço maternal do silêncio, escuto o conselho, rio e choro com a mesma vontade com que abraço minha mãe. Solto o gito da revolta na escrita, retomo o fio ao pensamento, deixo que as mãos conduzam o pensamento e lhe dêem forma. Não, não te vou ler, estou-te a ler.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Pensar...

Não sou pessoa de acreditar, propriamente, no destino. Prefiro falar em fado, talvez por entender que o vocábulo encerra em si, uma infinidade de sentimentos e vivências tipicamente portuguesas. Ou talvez porque considere o fado uma forma de estar na vida. Não me confessaria uma católica na verdadeira acepção da palavra, creio que, acima de tudo, faço uso de uma filosofia de vida, assente em valores que me foram transmitidos pelos meus pais, outros construídos e ganhos com o tempo. Move-me uma vontade de encerrar a enciclopédia mais abrangente de saberes e conhecimentos possível. Não me quedo ao primeiro obstáculo, mas ainda assim, sou fraca no que diz respeito a lidar com a hipocrisia e falso laxismo. Não consigo conceber, o meu estado de espírito quando me vejo frente a situações menos justas. Há quem diga que estas características são próprias do meu signo. Talvez...mas as constelações também nunca me despertaram grande interesse. O único que conseguiu aproximar-me um pouco mais das constelações, por um prisma, diferente foi Nostradamus. A este propósito não posso deixar de vos convidar a ver o filme, aliado aos tempos modernos sobre tão magnânime figura. Depois há aqueles que dizem que visto a pele da Filosofia, que espelho e rejubilo a área. A ética questiona a justiça, a legitimidade de algumas acções, entre outras, é verdade, e de facto, o espírito crítico acompanha-me para onde quer que vá. Aliás as pessoas que se contentam com a normalidade enervam-me. Não sei o que é isso de ser normal, ou de normalidade. Vejo-os como conceitos, que convidam ao conformismo e o conformismo não faz mover. Serei mais inconformista, por certo, uma mente mais revolucionária do que se deseja. Isto obriga-me a falar em Nietzsche, em Kant, em Schopenhauer. Hoje consigo lê-los de outra forma e quem diz lê-los diz revê-los através de uma outra perspectiva. Ah! como adorei descobrir Irvin Yalom, de quem já falei aqui, adorei "Quando Nietzsche Chorou", "A cura de Schopenhauer", agora adivinha-se "Mentiras no divã" - aqui com certeza uma perspectiva freudiana e um outro recentemente traduzido que virá na prenda de natal. Assim o espero, se falhar compro-o eu... A escrita permite-me sair do emaranhado de mim mesma, ou talvez não, porque no que escrevo espelho-me e quando me leio revejo a torrencial chuva de pensamentos que me assola noite e dia. Já disse, por diversas vezes, que às vezes queria não pensar tanto, mas a verdade é que no tanto que penso encontro respostas que geram novas questões, às quais busco encontrar resposta e isso faz-me sentir suficientemente ansiosa pelo amanhã. Porque os passos mais saborosos são os que construímos e não aqueles que nos são indicados por terceiros...

segunda-feira, dezembro 01, 2008

coisas simples...


Acordei, manhã cedo, pairava ainda no ar alguma neblina. Colei-me à janela, a apreciar a paisagem, a névoa começou a erguer. O branco mostrou-se na sua alvura. Um manto de neve estende-se no horizonte. O frio faz das suas, convida a uma tarde de serão, acendi a lareira (finalmente consegui alugar um apartamento com uma), decidida enfeitei a primeira árvore de Natal com o companheiro de viagem (sim, porque os anos anteriores têm obrigado a que cada um faça a sua). Sentei-me no sofá, a apreciar as chamas, a escutar o som das árvores, peguei nos papéis que guardei durante dois dias e comecei as correcções, adiantar trabalho dá sempre jeito...

Depois de um belo jantar à luz da lareira é hora de me deleitar a ler um bom livro...

Já agora um convite, apreciem o novo blogue aqui do sítio: http://terradesantamaria.blogs.sapo.pt/