quinta-feira, janeiro 29, 2009

Assim...



Hoje, Manolo descansa ainda da sua caminhada, retoma-la-á logo que me recomponha desta maldita gripe que já me obrigou a uma ida às urgências em plena madrugada. Pensava eu, na semana passada, que já estava bem, porque até não não tinha dores e eis que veio em força, novamente, esta semana. Pareço um zombie com estas olheiras enormes, pois como não as haveria de ter se passo a noite a espirrar e a tossir? Mas, Manolo refaz-se da sua canseira também porque tenho de me despedir, infelizmente, de mais uma pessoa que fez parte da minha infância, adolescência e vida adulta. Dona Alice parte cedo demais, depois de uma vida, nos últimos anos com muitas perdas familiares. Ontem, o telefone de casa tocou a uma hora pouco habitual e o coração parecia adivinhar o que havia sucedido. Depois da notícia pesarosa, marquei o número da Joca e lá lhe disse: "não sou boa nestas horas, por isso resta-me deixar-te um beijo de amizade sentida." Adeus D. Alice, que a paz a acompanhe! Jamais esquecerei o seu sorriso e os braços abertos para me receber...

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Seis coisas sobre mim...

Costumo dizer que por muito que busque falar de mim nunca o faço de forma objectiva, no entanto faço-o sempre de forma realista e emprego o melhor de mim para que me conheçam. Não obstante, aquilo que somos no mais intímo de nós mesmos fica sempre aquém de qualquer coisa que consigamos transpor para os outros, porque é essência. Assim e porque me foi lançado um desafio, falar de mim, aqui vai. Espero não desiludir a Clara B do enigmaeoespelho.blogspot.com.



1. Adoro o campo, o cheiro a terra molhada e as rugas da minha avó. Esta tríade é-me essencial, cada uma pelo seu motivo. O campo faz parte da minha infância, onde cresci ao som da liberdade e das brincadeiras próprias da vida numa pequena aldeia, hoje desertificada. O cheiro a terra molhada porque me me faz lembrar a sonoridade prória da terra mãe. As rugas da minha avó porque nelas está também inscrita a minha história.



2. Sou pessoa de poucos amigos e defendo sempre que não os selecciono, mas creio que são eles que me escolhem, na medida em que me conferem a confiança necessária para ir além de mim mesma e de me poder mostrar como sou, sem ser, para isso necessário, vestir máscaras. Considero aqueles que são meus amigos parte integrante de mim mesma.



3. A ética e a moral acompanham-me vida fora e talvez por isso tenha alguns dissabores, mas contínuo a preferir reger-se por princípios valorativos fortes do que não os ter.



4. Adoro ler. Adoro literatura que faça pensar, que eleve. Sou apaixonada por poesia e filosofia. E se no que busco encontrar resposta não a encontro parto para outro ponto para ver se ele mo dá. Adoro Irvin Yalom, Milan Kundera, Saramago, Mário Sá Carneiro, etc.



5. Prefiro que as pessoas não saibam o meu nome, a que queiram viver a minha vida por mim. Odeio a intriga e pessoas mal formadas.



6. Sonho que o ensino em Portugal mude. Que o facilitismo exacerbado desapareça e que possamos ter gente capaz de nos governar futuramente.
Agora Passo o desafio a:
Para responder ao desafio os passos são estes:
Linkar a pessoa que me indicou.

Escrever as regras do meme no meu blog.

Escrever seis coisas aleatórias sobre mim.

Indicar outras seis pessoas e colocar os links no final do post.

Informar as pessoas que as indiquei deixando-lhes um comentário..

Oa tamancos de Manolo...


Desperta do sonho, queda-se o olhar sobre o rio, divaga a mente por inúmeros locais desconhecidos para si. Sabe onde está, o corpo prende-o ao local, mas a mente solta-se para se encontrar num local que desconhece. Manolo, começa a contactar, pela primeira vez, com uma infinidade de novas sensações, com sentimentos e emoções até então fechadas para si. Depois desta paragem, com os pés descalços faz-se ao caminho, novamente. Bate à porta de todos os pequenos comércios por que passa, tem os olhos lassos, os ombros caidos como se carregasse o peso do mundo. Já bateu a muitos locais, falou com muita gente, disse precisar de trabalhar, mas as recusas foram constantes. Já no final da rua do bairro, Manolo bate a outra porta, a última, ainda aberta. Do lado de lá do balcão em madeira gasta, surgiu um senhor alto, forte. O corpo franzino estremeceu ao ver tão proeminente figura. A medo disse: "senhor venho aqui perguntar-lhe se precisa de algum empregado. Faço tudo."

- De onde vens tu rapaz? - perguntou o dono da pequena mercearia

- De longe senhor, de uma terra que o senhor não conhece. Venho de lá, dos lados de Trás-os-Montes.

- E que te levou a vir até aqui?

- A busca de melhor sorte senhor. Preciso de ajudar os meus, e lá de onde eu venho já não há lugar para mim. Se continuar lá vou fazer o mesmo caminho que os meus pais e não estarei a ajudá-los. Só posso ajudá-los se conseguir madar-lhe mais algum...

- Como te chamas?

- Manolo.

- Manolo, o meu nome é Pereira. Diz-me onde estás a morar e logo verei se tenho alguma coisa para ti.

- Moro ali à frente senhor, na pensão ao fundo da rua.

- Vai descansar rapaz, deves ter os pés em ferida. Espera aqui um pouco que já volto.

O senhor Pereira subiu as escadas que davam acesso à casa, que ficava por cima da loja, e desceu com uns tamancos de madeira.

Manolo ficou sem palavras, os olhos toldaram-se de lágrimas, só foi capaz de dizer: "Obrigado senhor, muito obrigado. Mas não tenho dinheiro para lhos pagar."

- Não te preocupes meu rapaz, vai-te lá embora que se eu tiver novidades para ti lá te chamo.

Manolo seguiu para a pensão com os tamancos calçados, invadia-o um sentimento de gratidão enorme pelo gesto daquele desconhecido. Não sabia ainda que o senhor Pereira também já tinha tido 11 anos, já tinha andado descalço e conhecia como ninguém a necessidade. Chegado à pensão, caiu na cama e fixou o olhar no tecto, desenhou mentalmente um cenário e deixou-se enlevar nele. Olhou as mãos mais uma vez e adormeceu na ânsia de acordar com o sr. Pereira a bater-lhe à porta de manhã. Manolo dorme desperto...

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Manolo abraça o horizonte...




Ainda o dia não se erguera já Manolo estava desperto, seriam seis da manhã pelas suas contas. Bem poderia ter-se socorrido do relógio, mas não o tinha, assim teve de olhar o céu da janela e adivinhar que horas seriam. Olhava à volta, da janela do seu quartinho via o rio Douro, inspirou o ar da matina e deslocou-se para junto da sua mala de cartão. Abriu a mala, pegou no pedaço de pão de milho que a mãe lhe tinha colocado na mala e acariciou-o, como se fosse o seu rosto. Um rosto enevelhecido pelas agruras da vida e pelos nove partos que tivera. Levou-o à boca e comeu-o devagar, para absorver durante mais tempo os sabores da sua terra, da sua gente. Saiu do quarto e dirigiu-se à casa de banho, pelo menos era o nome que era dado àquele cubículo, e tomou um banho de água fria. A água parecia, hoje, mais fria, talvez porque estivesse sozinho na imensidão de um mar de gente, a que não estava habituado. Era impessoal estar ali. De regresso ao quarto olhou as paredes com uma atenção quase devota, contemplava cada esquina, cada pormenor, ansiava decorar-lhe o aspecto, afinal aquela seria a sua casa duarante algum tempo, quanto não sabia. Com a mala aberta pensou em vestir a melhor roupa, tarefa nada dificil para quem só tinha duas mudas. Vestiu-se, calçou os sapatos, desceu as íngremes escadas da pensão e partiu em busca da sua sorte. Calcorrou as ruas, os bairros, os pés doiam-lhe, olhava os sapatos e via que não iam aguentar a caminhada. A meio da caminhada estavam rotos, descalçou-os e caminhou assim... Sentia as pedras da calçada, frio não tinha, porque a vontade o movia. Cansado, meteu a mão no bolso, sentou-se na margem do rio, tirou um pedaço de chouriço que trouxera consigo e um naco de broa e ficou ali a comê-lo, enquanto estendia o olhar pela imensidão do rio. Entre a imensidão de um rio que lhe parecia ser o mar, abandonou-se à sorte de sonhar enquanto comia. Manolo, abraça o horizonte enquanto come e deixa-se levar pelo sonho, por ora....

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Caminhando com a mala de cartão...


Aos 11 anos de idade Manolo abandona a escola, decorria a década de 60 e ruma ao Porto em busca de trabalho. Vai com os sapatos meio gastos, mas eram os melhores que tinha, vestia a melhor vestimenta, as calças eram curtas, a roupa pouca, no entanto, levava as mãos cheias de esperança. Ia com medo, triste por abandonar os seus, desanimado por não ter podido ir além da quarta classe e ansioso por escrever em breve a dizer que tinha conseguido um emprego. Da janela a mãe seguiu-lhe os passos, o pai, homem doce, partiu com os animais para a pastorícia, não queria que o filho lhe visse as lágrimas e a dor que lhe apertava o peito, a dor de não lhe poder dar melhor sorte. Cabisbaixo, olhava o caminho a percorrer, os passos eram pesados. Olhava as mãos e dizia de si para si que ainda lhe iriam ser úteis. Abandonou a aldeia que o vira nascer, levava na pequena mala de cartão os seus haveres, que se resumiam a duas mudas de roupa, alguns trocos para os primeiros dias. No caminho pensava apenas em chegar ao destino, como faria para pedir emprego, como iria fazer chegar à sua família algum do dinheiro que receberia, pensava o que faria com o seu primeiro salário. Manolo Junior não receava a solidão, receava não vencer, não conseguir e ser apontado como fracassado. Depois de, quase um dia de viagem, chegou finalmente ao destino. Olhou ao redor e sentiu-se fora do seu habitat, sentiu não pertencer ali. Encheu o peito de ar, supirou profundamente e procurou a pensão mais em conta para pernoitar. Encontrada a pensão era hora de descansar. Amanhã o dia seria longo.... Fecha a mala e guarda os sonhos para si...

domingo, janeiro 11, 2009

Nas mãos sinto a luz

Quis a tela pintar-se assim. Encher-se de cores de significados para dizer mais alto que a vida só faz sentido porque há pessoas na nossa vida que nos conferem identidade. É nesta alteridade que me revejo hoje. Oferece-vos, por isso, este pensamento:

Nas mãos sinto a luz, a êxul luz
que vem das paliçadas da mansão,
a luz azul em clarificada zona então
aproxima de mim o seu facho de horizonte.

E logo eu a lembrar o querido monte
em que pousada estava sobracente a ramaria,
e logo eu então a pedir à maresia
que nos brilhos unos do futuro aproximasse

esse rumor de aves onde os raios enfeitasse
e eu oco no caminho que me guia
contivesse as minhas mágoas do passado,

e surgisse ali a minha alma em fogo-fátuo
estivesse eu em toda a dimensão do brusco
a nascer das folhas com a boca em luz arado.

Alexandre Vargas

sábado, janeiro 10, 2009

Amor incondicional.

Há datas, mas acima de tudo, momentos que não se pagam da memória, independentemente do tempo que passe, dos acontecimentos que ocorram. Quando paro para pensar, o que ocorre com frequência, invade-me um sentimento nostálgico de vivências imemoráveis. Dou-me conta que no próximo mês fará três anos que o nosso melhor amigo partiu, vítima de melanoma. Fechou os olhos para o eterno descanso, mas vivo nos nossos corações. Viveu a vida ensinando aqueles que consigo privavam e mesmo no fim dos seus dias mostrou-nos a luz que não conseguíamos ver. É surpreendente como mesmo no fim do seu trajecto conseguia fazer-nos rir e indicar-nos caminhos para além da tristeza. Encerrou em si, sempre, uma infinidade de transformações, que se revelaram essenciais para si mesmo e para os outros, por isso e por muito mais, que não consigo expor em palavras, desprendo-me para vos tentar mostrar o porquê de todos os anos o relembrar aqui. Exponho, por conseguinte, um episódio verdadeiramente marcante.
Um dia depois de ter sabido da terrível doença que o afectava e da impossibilidade de a vencer, chegou ao café à hora marcada, sentou-se e disse: “então Araújo vai uma bejeca ? e tu oh filósofa deixa-te de coisas porque hoje posso beber.” Na altura estava a dar aulas em Castelo Branco, aprendia a lidar com a diferença linguística da região e acabámos por nos envolver numa discussão que versava sobre a importância dos regionalismos. Lembro-me que o Brás e o Araújo acabaram por entrar numa discussão mais profunda, indo à literatura portuguesa. Falaram de Alves Redol, de Eça de Queirós, de Camilo Castelo Branco e de tantos outros. Quando dei por mim, estava na hora de ir. O Brás, achava que ainda era cedo e vociferou: “deixa de ser tão certinha e fica aqui com o amigo.” Disse-lhe não poder, porque no dia seguinte eu e o Araújo teríamos que nos levantar cedo para ir ajudar os meus pais a limpar um terreno junto ao rio da minha aldeia. Não esperava a reacção dele, que se expressou nestes moldes: “ai é? Então também vou. Sim, mais um a ajudar é sempre bom.”
- “Brás, és doido, com o problema que tens é melhor não.” – disse eu
- “Olha, olha…lá porque estou mais para lá do que para cá, tenho de continuar a viver. Vou e ponto final.”
No dia seguinte lá estávamos todos na levada a ajudar os meus pais, o sol apertava, pelo que o meu pai, conhecedor da situação do Brás lhe disse para ir para a sombra e se proteger, devidamente, do sol. A resposta que o Brás lhe deu marcou e continua presa na memória de todos quanto a ouvimos: “o sol que me podia fazer mal já fez, agora é esperar pela minha hora, mas tem de ser uma hora em que deixe uma lembrança boa”, dizia rindo.
Nunca esquecemos esse dia, a forma como ria, como dizia “porra esta coisa custa”; “xi, um copito ajuda”; “como pode esta gente viver da agricultura?”; “bolas vai lá vai que eu daqui a nada vou mas é ressonar”. Foi um dia em que rimos muito, dele e com ele, em que nos ensinou que as dores se amenizam se deitarmos para fora a ira. Mostrou-nos que a despedida com dignidade é importante, que importa que mesmo no adeus nos sintamos vivos porque somos amados.
Uns dias antes da partida escreveu estas palavras para o Araújo e para mim: “Não escolhemos o rumo da nossa vida, quanto vivemos ou podemos fazer, mas escolhemos os nossos amigos. Eu escolhi-vos a vós, para trilharem comigo os caminhos alegres e duros da minha vida. Amo-vos.”
Dizer amar não basta, temos de sentir o amor, mas acima de tudo partilhá-lo com os demais, por isso partilho aqui, mais uma vez, o amor incondicional e desprendido que nutri e nutro por ti Brás.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Um cenário que já não se via há mais de duas décadas...







Hoje acordei com este cenário...

terça-feira, janeiro 06, 2009

Sobre politiquices...

Ontem, estendi-me no sofá para a ver os noticiários, estava com alguma curiosidade em ver a entrevista do nosso primeiro-ministro José Sócrates, não que ele me desperte algum tipo de curiosidade, tal é o tamanho do prevesível do seu discurso, mas porque se inicia 2009 estava algo desperta para o escutar. Confesso que há pessoas que detesto ouvir, desde Valter Lemos, Maria de Lurdes, Pedreira, Pinho, Sócrates, talvez porque o despotismo e a arrogância apareçam encobertos num raciocionio todo ele baseado em pressupostos falaciosos, fazendo da retórica uma arma de arremessso para a ignorância. De discursos ocos e vazios de ideias, embelezam-nos dando à mentira a aparência de uma realidade quimérica. Desta vez vi um homem inseguro, essencialmente virado para a propraganda política. Quem, numa altura, tão complicada continua a pedir uma maioria absoluta? Esta coisa das maiorias absolutas já se viu que não dão grande resultado e claro está que para um governo desta índole, pelo que temos verificado, uma maioria absoluta tende a levar ao "totalitarismo" encoberto sob o nobre nome de Democracia. Pois, claro está como as águas limpidas dos rios (poucos já) que o senhor primeiro ministro não conseguiria governar um país sem maioria absoluta, porque as suas vontades não poderiam ser satisfeitas com o mesmo à vontade, para além de que não poderia manter-se surdo às manifestações legitimas de milhares de cidadãos. Ontem vi um primeiro ministro arrogante, ainda mais do que habitual, que não conseguiu responder de forma clara e precisa a perguntas para as quais não se tinha preparado, como aquela em que o jornalista lhe pergunta porque não previu no orçamento de Setembro este cenário; ficou atrapalhado e sem argumentos no que diz respeito à educação. Só no final da entrevista, e nisso ele é medíocre, dada a forma repetitiva do seu discurso, se soltou recapitulando tudo o que já sabemos. Sem novidade no discurso, apenas a apagada imagem, levou a questionar-me onde anda a oposição? Inexistente, diria. Antes que questionem sou apartidária, voto naquele que me parece sempre oferecer maior segurança. Nas últimas eleições o meu voto foi um voto contra como lhe chamo, não votei neste governo, mas enraivece-me a pressão a que estamos sujeitos nos nosso postos... Mas uma outra questão se levantou na minha mente, temos a ideia de que os políticos têm de ser convicentes, este foi-o, mas não será preferível que sejam bons gestores? Entendo a política de outra forma, não é necessário ser-se só um bom orador, trabalhar a imagem, discursar em frente a um espelho para à frente dos media manter uma postura de "rei", entendo que um bom político é aquele que sabe governar um país, estando atento às suas necessidades e aos seus cidadãos. Um político, bom, não pode governar sozinho e continuar a tapar os ouvidos às vozes que se erguem contra determinadas soluções apresentadas. Já, sabemos Manuela Ferreira Leite anda apagada, quando fala diz coisas que não devia, mas não será ela um boa gestora? Francisco Louça, que ninguém lhe negue a inteligência, precisa de dar lugar a outra pessoa na liderança do BE, pois a imagem e discurso crítico estão demasiado gastos. Paulo Portas, desse até me esqueço que existe...

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Aberta a janela

Encerrado mais um capítulo da minha vida, sinto-me aliviada pela frontalidade conseguida. Continuo com a mania da ética, mas esmero-me no tom cordial com que digo o que muitos não querem ouvir. Fazendo da Filosofia a minha máxima, empreguei-a para, finalmente, conseguir tirar um peso da alma. Foram necessárias muitas noites mal dormidas, muita crispação, muito desalento, muita raiva, para fazer ver que quem diz a verdade não merece punição. Mantive-me encerrada em mim durante estes dias, porque senti necessitar fazê-lo, castiguei-me, mas acima de tudo fui dura com quem me sentia mais à vontade. Hoje, depois de abrir a janela do meu quarto e ver um céu carregado de nuvens, despi o pijama e segui o meu rumo. Enfrentei o temor e deixei que a alma falasse, que as correntes se começassem a soltar. Disse o que há muito tinha dentro de mim, fi-lo porque precisava encerrar em definitivo mais um capítulo da minha vida. Inicia-se agora um outro capítulo, para o qual parto aliviada do peso que carregava, porque, mais uma vez, não me abandonei à mercê dos princípios que outros me queriam impor. Fui capaz de dizer a quem me quis ouvir "não queiram viver a minha vida, nem passar gestos vossos como sendo meus, simplesmente porque precisam de abandonar à mercê do lobo alguém que continua e continuará vida fora a viver a vida com os princípios que lhe foram incutidos e dos quais não abdica."
Porque eu sou aquilo que faço e não aquilo que teimam e teimaram querer que eu seja. Porque aquilo que somos só oferecemos a quem amamos e ainda assim há sempre uma réstia de nós que não damos a conhecer...