terça-feira, março 14, 2006

Elegia ao Companheiro Morto

Meu companheiro morreu às cinco da manhã

Foi de noite ao fim da noite às cinco em ponto da manhã


Ah antes fosse noite noite apenas noite

sem a promessa da manhã


Ah antes fosse noite noite noite apenas noite

e não houvesse em tudo a promessa da manhã


Deitado para sempre às cinco da manhã


Agora que sabia olhar os homens com força

e ver nas sombras que até aí não via a promessa risonha da manhã


Mas quem se vai interessar amigos quem

por quem só tem o sonho da manhã?


uma vez de noite ao fim da noite mesmo ao cabo da noite

meu companheiro ficou deitado para sempre

e com a boca cerrada para sempre

e com os olhos fechados para sempre

e com as mãos cruzadas para sempre

imóvel e calado para sempre


E era quase manhã E era quase amanhã

Mário Dionísio

5 Comments:

At 14 março, 2006 22:26, Anonymous Anónimo said...

Sem palavras e assombrada foi assim que me senti quando li esta elegia. Quem como nós poderá sentir este cerrar de alma. Talvez a manhã se possa erguer num amanhã mais risonho...

 
At 15 março, 2006 00:08, Blogger deep said...

Fiquei arrepiada com o teu poema... transbordante de dor. Quem dera saber um remédio...

 
At 15 março, 2006 10:35, Blogger deep said...

Mesmo não sendo teu, é arrepiante e, se o escolheste, é porque traduz o que tu sentes.

 
At 15 março, 2006 13:48, Blogger anovska said...

É aterrador...
Ainda não o fiz, mas expresso aqui o meu lamento pela tua perda. Nenhuma palavra é bem aplicada nesta hora, apenas o silêncio, para que quem sofre possa chorar a sua perda até que a dor vá clareando.
Nunca deixes de chorar a tua perda.
Abraço e beijo
Ana

 
At 15 março, 2006 21:29, Blogger pinky said...

lindoooooooooooooooooooo! não conhecia! é maravilhoso, mas um facto é certo, o amanhã está sempre a aparecer! a lembrança fica para sempre, os momentos passados duram para sempre, a saudade não nos abandona, mas a dor vai-se desvanecendo, dia a dia manhã a manhã, e a lágrima no rosto irá dar lugar a um sorriso com a lembrança!

 

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