segunda-feira, maio 26, 2008

Para Reflectir...



Humberto Eco - é um filósofo e escritor Iataliano. As suas obras tocam diversas áreas, desde a semiótica, estética medieval e a filosofia.

Das obras já lidas selecciono duas: "O nome da rosa" e "O pêndulo de Foucault". Para abrir o apetite:


(...) Vós quereis tentar a sorte na grande cidade, e sabeis bem que é lá que deveis gastar essa aura de valentia que a longa inacção dentro destas muralhas vos houver concedido. Procurareis também a fortuna, e devereis ser hábil a obtê-la. Se aqui aprendeste a escapar à bala de um mosquete, lá deveis aprender a saber escapar à inveja, ao ciúme, à rapacidade, batendo-vos com armas iguais com os vossos adversários, ou seja, com todos. E portanto escutai-me. Há meia hora que me interrompeis dizendo o que pensais, e com o ar de interrogar quereis mostrar-me que me engano. Nunca mais o façais, especialmente com os poderosos. Às vezes a confiança na vossa argúcia e o sentimento de dever testemunhar a verdade poderiam impelir-vos a dar um bom conselho a quem é mais do que vós. Nunca o façais. Toda a vitória produz ódio no vencido, e se se obtiver sobre o nosso próprio senhor, ou é estúpida ou é prejudicial. Os príncipes desejam ser ajudados mas não superados.
Mas sede prudente também com os vossos iguais. Não humilheis com as vossas virtudes. Nunca falei de vós mesmos: ou vos gabaríeis, que é vaidade, ou vos vituperaríeis, que é estultícia. Deixai antes que os outros vos descubram alguma pecha venial, que a inveja possa roer sem demasiado dano vosso. Devereis ser de bastante e às vezes parecer de pouco. A avestruz não aspira a erguer-se nos ares, expondo-se a uma exemplar queda: deixa descobrir pouco a pouco a beleza das suas plumas. E sobretudo, se tiverdes paixões, não as ponhais à vista, por mais nobres que vos pareçam. Não se deve consentir a todos o acesso ao nosso próprio coração. Um silêncio cauto e prudente é o cofre da sensatez.


Umberto Eco, in 'A Ilha do Dia Antes'

6 Comments:

At 27 maio, 2008 00:43, Blogger deep said...

Um texto muito bonito e propício à reflexão, sem dúvida. Obrigada pela partilha e por me incentivares a tirá-lo da estante onde, há uns tempos, espera pacientemente a minha atenção.

Fica bem. Boa semana. :) Bjs

 
At 27 maio, 2008 09:37, Blogger Canephora said...

Um excelente escritor... mas infelizmente só li ainda excertos.
Tenho dois em casa a ganhar pó... pode ser que agora vá ler (mentiroso)... um dia... tenho a certeza que um dia o faço.

 
At 28 maio, 2008 15:31, Blogger Vanessa said...

Peço desculpa pela minha ignorância, mas não conhecia. E infelizmente leio tão pouco...[que vergonha].
Espero que esteja tudo bem consigo.
Um beijinho grande

 
At 31 maio, 2008 02:44, Blogger mundo azul said...

São os dois livros dele, que já li...Gostei demais!!! Ele é excelente, mas, algumas leituras são bastantes pesadas... É preciso estar realmente disposto...
Esse texto é ótimo!
Beijos e muita luz...

 
At 01 junho, 2008 01:48, Blogger Donagata said...

Excelente autor, embora não goste de todos os seus livros de igual forma. O que prefiro é, sem margem para dúvida "O nome da Rosa". Também gostei do "Pêndulo de Foulcault" que também cita e de "Baudolino". Já "A misteriosa chama da rainha Luana", comecei a ler e interrompi. Provavelmente não estava na melhor das disposições para o ler, mas voltarei a tentar.

 
At 30 agosto, 2008 17:05, Blogger Ermelinda Silva said...

Este texto vem de encontro ao comentário que fiz há pouco aqui no Blog.
A proposta é esta: Sede sábios!
Tantos livros lidos, tantas obras consultadas, tanta literatura e tanta filosofia!
Arrumei cautelosamente um por um excepto a Bíblia que leio todos os dias. Está lá tudo e de uma vez só!
No Natal peguei no "sétimo selo" de J.Rodrigues dos Santos e de 3 vezes sorvi-lhe todo o sabor de uma novidade literária.
Devolvi-o à Biblioteca, aconselhei a sua leitura a quem calhou e voltei à Bíblia e à Vida.
Diz-se que de sábio e de louco todos temos um pouco mas não temo dizer que esta máxima é de todo uma grande sentença ética que funciona como proposta para a vida.
Quando o sol se parece pôr é que ele nasce; a penumbra nunca cega quem anda iluminado ou quem se deixa iluminar!

 

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