segunda-feira, novembro 10, 2008

O Louco de Kahlil Gibran


Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:
um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas -e corri sem máscara pelas
ruas cheias de gente, gritando:
"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram
para casa, com medo de mim E quando cheguei à praça
do mercado, um garoto trepado no telhado de uma
casa gritou: "É um louco!".

Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e
minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras. E, como num
transe, gritei:

"Benditos, bendito os ladrões
que roubaram minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:
a e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual
que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

7 Comments:

At 11 novembro, 2008 09:59, Blogger Ermelinda Silva said...

Magnífico!

Na minha juventude foi um dos meus heróis(ele e Jesus Cristo de Quem me tornei Amiga).A loucura é o que resta ao acto de ser livre. Mas uma loucura lúcida!

A loucura dos sábios sempre foi a de terem a certeza de nunca serem compreendidos, pelo menos no seu tempo!

Por este poema se pode ver como ser feliz não resulta de um acto de valentia, mas de uma atitude diferente que pode escandalizar os "certinhos"; simplesmente louco porque livre!

O povo diz que "de sábio e de louco todos temos um
pouco".

A frase:

"O desigual que nos compreende escraviza
alguma coisa de nós" diz-nos que, mesmo quando há compreensão, há perda de liberdade.Entendo escravidão, no sentido de "laços".
Logo, ninguém na sua lucidez,no seu criar laços com a vida, é completamente livre e feliz!
Já Sartre dizia:" O Inferno são os outros"

Por isso há quem preserve a sua independência e autonomia, a sua vontade própria e decisão de livre-escolha, sem influências, sem pactos; uma vida ligada aos outros mas não atada aos outros.
Isto é uma posição que "O Principezinho" não defendia. Para ele, o importante era "criar laços":
"...foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que tornou a tua rosa tão importante!"-A.S.Exupéry

É o mais belo que há: poder ter opiniões e filosofias de vida próprias!

 
At 12 novembro, 2008 18:46, Blogger clara branco said...

O meu preferido de "O louco" é " O pequeno prazer":
Ontem à noite inventei um prazer novo.
Quis prová-lo e foi então que um anjo e um demónio me invadiram a casa.
Os dois discutiam o prazer recém-nascido.
Um gritava: "É pecado!" O outro, no mesmo tom dizia: "É virtude!"...

Absolutamente delicioso não é?
beijos

 
At 13 novembro, 2008 18:10, Blogger Ermelinda Silva said...

É lindo.

E sempre o Maniqueísmo (o bem e o mal)a censurar o apetecível e o ser-se "obrigado" a escolher algo que encaixe nas normas.

É caso para dizer: Maldita lógica, filha de um anjo menor, que nos vigia noite e dia e só nos permite a lucidez, nunca a loucura da lucidez!

Mas "Não há machado que corte a raíz ao pensamento/Não há morte para o vento/Não há morte...".
E para a imaginação que faz o sublime da arte, também não há anjos nem diabinhos. Há loucura de uma lucidez transfigurada que ninguém pode cortar ou controlar!

Gostei da partilha e já nem me lembrava desse poema. Foi há tanto tempo!!!

 
At 17 setembro, 2009 02:57, Blogger Rosane Santiago said...

alguem sabe onde posso encontrar o e-book ou baixar esse livro??

 
At 09 setembro, 2013 13:25, Blogger madamemachado said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 09 setembro, 2013 13:27, Blogger esczoma said...

falta um trecho no fim do poema. "E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."

 
At 14 janeiro, 2014 23:49, Blogger Senhorita Misterio! said...

Amei esse livro de Khalil Gibran, é maravilhoso!!!

 

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