domingo, junho 22, 2008

Entre aquele que só...prefiro ser aquele que não vê!


Quedei-me envolta no silêncio da noite (a minha conselheira, por sinal). Escutei as vozes das aves que teimavam em não se calar. Ouvi os lamentos da vizinha que chora como uma criança, sem saber o motivo, mas tentando adivinhá-lo. Parei para pensar no que me disseste... Não empregaria a palavra "fragilizada", diria antes que estou entristecida. Entristece-me verificar que aqueles cuja irresponsabilidade se vê à distância, são premiados, mantêm os seus cargos, sobem, são aplaudidos. De que me serve a responsabilidade, a busca pela elevação, o trabalhar com afinco? Estarei errada ao não fazer uso da hipocrisia, da mentira, ao não compactuar com a ilegalidade, em querer manter uma conduta ético-moral? Tenho verificado que a inteligência, a sagacidade, o trabalho, não interessam, muitas vezes. Interessa muito mais que se façam as vontades todas aos que chefiam, se dê graxa e distribuam sorrisos amarelos; sejamos cegos, pouco inteligentes, dados a mimar com rosas, cafés, jantaradas os que podem decidir o nosso futuro.
Não sou assim, não consigo compactuar com falsos laxismos, sei calar para evitar problemas de maior, mas não posso conceber que o esforço, a labuta, a dedicação sejam relegados para segundo plano. Irrita-me, ainda mais, que se brinque com a vida das pessoas, que se calem decisões, se mantenham firmes convicções vis....
Devo ser de outro tempo, de outro mundo. Mas entre aquele que só pensa no seu umbigo e aquele que não vê, prefiro ser aquele que não vê!

11 Comments:

At 22 junho, 2008 23:54, Blogger deep said...

Como te compreendo! Pior: não está nas nossas mãos mudar o rumo que as coisas levam. Podemos tentar, podemos fazer e não calar o que nos deixa a conciência tranquila, mas não o coração, certamente! Impotente e triste é como me sinto muitas vezes.

Fico contente por saber que já foste feliz por estas bandas! :)

Boa semana. Bjs

 
At 25 junho, 2008 09:26, Blogger Canephora said...

Por vezes não é fácil "não ver"... e essas injustiças pesam-nos, mas infelizmente a realidade é essa... a incompetência, irresponsabilidade e egoísmo é recompensado mais frequentemente.
E parece que normalmente, essas "qualidades" são frequentes nos colegas de trabalho que são passados hierarquicamente à nossa frente...
mas pelo menos, à noite, quando me deito, durmo descansado de ter cumprido a minha parte.

 
At 26 junho, 2008 01:11, Blogger Donagata said...

Que bom que seja assim, Carla. Assim, com coluna vertebral! Só assim as pessoas se podem sentir bem consigo. Se assim não fosse, Carla, não se suportaria.
Agora que este modo de estar, esta forma de vida traz muitos dissabores, lá isso traz. Mas também é verdade que as compensações, quando as há, são sempre muito mais gratificantes.
Continue igual a si própria e vai ver que, embora a luta seja maior porque desigual nas armas que utiliza, vale a pena.

Um beijo muito grande e ânimo.

 
At 30 junho, 2008 19:35, Blogger Cöllybry said...

Sobresai a essência da Tua Alma, que por vezes estranha este estado em fisico e se sofre com a tão grande diferênça,como entendo....

Meu beijito, terno

http://olharindiscreto.blogs.sapo.pt/

 
At 01 julho, 2008 14:34, Blogger Vanessa said...

Um beijinho com saudade***

 
At 04 julho, 2008 21:47, Blogger alexia said...

Sobre o tema do post parece-me que algo em contrario seria mal interpretado, há de facto muita injustiça e é necessário um grande jogo de cintura para que ao não compactuar com certas coisas não sejamos também prejudicados!
Amei a introdução do texto…é curiosa a forma como encaixas um assunto tão “cientifico” num inicio que se adivinhava “passional”:)
Fica bem!

 
At 07 julho, 2008 17:32, Blogger Alien David Sousa said...

Carla se és de outro mundo por :

"Estarei errada ao não fazer uso da hipocrisia, da mentira, ao não compactuar com a ilegalidade, em querer manter uma conduta ético-moral?"

Então venha de lá esse abraço alienígena.

É triste quando nos sentimos rodeados de abutres ou de alminhas que são capazes de se deitarem no chão para serem pisadas. Se há coisa a que dou valor é a pessoas com principios - não a idealistas que morrem à fome para provar um ponto - com valores, que sabem que não vão conseguir aquela promoção como merecem, pelo menos não já, mas que podem andar de cabeça erguida porque - desculpa a linguagem - não andam a lamber o cu a ninguém.

Esta sociedade está assim montada nesta momento, mas, de vez em quando lá aparece um "SER" que por mérito mostra aos outros que é possível chegar lá à custa do trabalho. As empresas, especialmente as multinacionais, cada vez mais,procura profissionais que mostrem trabalho e não querem "lambem cus" porque esses não produzem.

Quem sabe, se as coisas não caminhem para outro rumo?

Beijinhos

 
At 09 julho, 2008 01:41, Blogger Hindy said...

Passo para soltar um beijinho hindyado...

 
At 10 julho, 2008 09:28, Blogger Duarte said...

Olá Carla,

Diria que de convicções, nem vis as têm. É um completo vazio, e de facto interessa mais a subserviência aos poderosos, num país q o patronato é um dos principais culpados das crises sucessivas em que se vive, num país onde se quer ganhar melhor e não se quer trabalhar, num país em que se quer melhor ambiente e insiste-se no uso do automóvel, num país q apenas olha para o umbigo e que quando as reformas o atingem, cai o carmo e a trindade. O nosso problema é estrutural, mentalidade atrasada. Nem com um governo perfeito se endireita, pois tentativas não têm faltado, mas a culpa é de cada um de nós, de todos. Quanto ao teu desabafo, compreendo-o, todos vivemos numa angústia dessas, mas tal como tu, recuso-me a perder a ética. Abraço :)

 
At 13 julho, 2008 23:31, Blogger mundo azul said...

Penso que você é que está certa! É preferível, aparentemente sairmos perdendo, do que ter a consciência pesada e o sono ruim!

Gostei muito do seu texto!

Beijos de luz e uma semana feliz...

 
At 30 agosto, 2008 16:55, Blogger Ermelinda Silva said...

Tão certeira à sociedade medíocre! Tão franca, autêntica e crítica! Tão rebelde, objectiva e submissa...
Claro que há contradições no que disse e no que digo.
O próprio silencio, calar nas situaçoes gritantes, já é uma cobardia.Em nenhum momento o ser humano é totalmente ele mesmo.
Como disse Ortega Y Gasset: "eu sou eu e a minha circunstância". Somos levados a agir não somente pela coerência do pensamento mas também pela situação, a circunstância. Faz parte da Ética o dever fazer, o dever agir, o dever pensar...E há muito que se perdeu de vista o postulado kantiano que, nunca foi aplicado por ninguém.
O ser humano é um cobardolas. Duvida?
Às vezes dou comigo a pensar que só posso fazer livremente determinada coisa se aparentemente pactuar com o sistema (mil e um exemplos). Mas dá-me muito gozo essa lucidez de me deixar "vergar" apenas para conseguir ser livre e fazer o que me apetece (ninguém faz, mas eu, tu, ele, fazemos).
Gostei do texto.
Fez-me lembrar os meus tempos juvenis, as "pancadas" que a vida me deu por perseguir a autenticidade e a verdade!
Fala-se em diplomacia também ligada à ética. Temos de fazer o maior bem para o maior número como propôs S.Mill. Isso já é decisão que o passar dos anos nos ajuda a tomar.
No princípio pensamos que podemos mudar o mundo; mais tarde é o mundo que nos vai moldando. Nós sobrevivemos livres, felizes e puros se formos sábios!
A Sabedoria é a maior arma, não o conhecimento!

 

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