O dia D...
O dia ergueu-se com uma suavidade plena de sentido para Manolo. O sr. Pereira trouxe, finalmente, a boa nova. Manolo iria trabalhar com ele, iria ser moço para todo o serviço que fosse necessário fazer no pequeno comércio. Vestiu-se à pressa, as calças rotas, os tamancos enfiados, mãos nos bolsos para esconder o nervosismo. Subida a rua, chegado à loja do Pereira, as pernas tremiam como varas verdes, esperou as ordens, cumpriu-as. No final de um dia de muitas lides, não se sentia cansado, mas com vontade de fazer mais. Depois de expor a mercadoria, atender o melhor que sabia os clientes, guardar as coisas que estavam expostas cá fora, ter limpado o chão, varrido o passeio em frente à mercearia, entre outras coisas mais, impelia-o a vontade de singrar, por ora aqui.
O Sr. Pereira não precisava de um empregado, mas sabia o que custava a vida, tinha já amealhado algum e desejava ajudar o máximo de pessoas que podia. Era um homem raro, que na surdina apregoava contra o governo, que desejava a liberdade, que não temia por si mas pelos seus. Não sabia porquê e confessou-o anos mais tarde, mas Manolo inspirava-lhe confiança, parecia-se com ele e disse-o, já velho e cansado demais para continuar por cá, que apostava nele como se fosse seu filho.
Manolo ficou a trabalhar com o Sr. Pereira durante alguns anos, criando uma verdadeira amizade. De tal forma que diz, ainda hoje, Manolo que "Pereira foi como uma árvore, que me prendou à vida e me impeliu a ramificar".
6 Comments:
Hà sempre alguém que nos dá uma mão... até o Manolo teve essa sorte... até já Manolo!
Beijo
Um beijinho hindyado
Curioso que hoje acordei a pensar que ha dias Ds:).
Já só me falta o "Sr.Pereira"!!
Bom carnaval!
Esta tua narrativa lembra-me, de alguma forma, o conto "Saga" da Sophia. Também nele se conta a história de um rapaz (este vindo do Mar do Norte)que chega a uma cidade desconhecida e, depois de alguns dias de desorientação, acaba por ser acolhido por um inglês, que lhe dá emprego e que acaba por tratá-lo como filho.
Bom domingo e boa escrita! :)
Devia de haver mais "Srs. Pereiras"...
foi bom vir ao teu blog. gostei daqui.
Maurizio
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