Casa de Acolhimento temporário...
Uma visita breve a uma Casa de Acolhimento Temporário – quem dera que o nome fizesse jus à realidade – bastou para chegar a casa com o coração apertado. Ainda ecoam as palavras proferidas por uma das crianças com quem privei: “quero uma família!”
O João tem 12 anos, está desde os 2 nesta casa de acolhimento temporário. Diz temer nunca vir a ter uma família, “mas se um dia a tiver, que lhes vou dizer, se pouco tempo me faltará para ter de me fazer à vida?” A sua mente é uma turbilhão de perguntas, de interrogações profundas.
- “Achas que ainda posso ter uma família?”
- “Claro que sim João.”
- “Mas ainda ninguém me quis. Nem os meus pais me quiseram, nem os meus avós. Achas mesmo que alguém vais gostar de mim?”
- “Eu gosto de ti. E repara só estou contigo aqui há umas horas.”
- “Eras capaz de me levar para tua casa?”
Neste momento tive que respirar fundo, a voz embargou-se, o coração começou a bater a uma velocidade assustadora, os olhos esconderam o que o coração sentia…
- “Claro que sim.”
- “A sério? Levavas-me hoje?”
- “Sim João, levava-te hoje se pudesse.”
- “Não podes?”
- “Não, não posso.”
- “Porquê? Não te entendo. Dizes que se pudesses me levavas hoje e depois que não podes…”
- “Meu querido, para te puder levar comigo teria de reunir algumas condições, que ainda não tenho. Mas, acredita que se as tivesse tudo faria para te levar comigo, te dar uma família.”
- “Sabes eu nem sei bem o que isso é. Sei o que é estar aqui e ver os outros meninos como uma família, mas isso de família como oiço alguns colegas falarem não sei o que é. Não me lembro dos meus pais, de ninguém…”
- “Talvez um dia venhas a saber…”
- “Ás vezes acho que já passou o meu tempo. Um dia quando for grande não vou abandonar os meus filhos, vou querer saber deles…”
Conversei com o João, estive junto dele o tempo suficiente para perceber o seu vazio. Tive a Ana, o André e o Bernardo ao colo, crianças de tenra idade que nunca se recusaram ao colo de quem desconheciam. Crianças que choraram no momento em que as tive que por no chão. Principalmente a Ana…
Antes de sair por aquela porta voltei a olhar para o João, disse-lhe um adeus e antes que pudesse dizer mais alguma coisa, escutei-o: “És simpática. Davas uma boa mãe.” Não consegui dizer mais nada, dei-lhe um beijo e sai, cabisbaixa e com as lágrimas a correrem-me pelo rosto. Lágrimas incontidas. Fez-se um silêncio em mim…
O João tem 12 anos, está desde os 2 nesta casa de acolhimento temporário. Diz temer nunca vir a ter uma família, “mas se um dia a tiver, que lhes vou dizer, se pouco tempo me faltará para ter de me fazer à vida?” A sua mente é uma turbilhão de perguntas, de interrogações profundas.
- “Achas que ainda posso ter uma família?”
- “Claro que sim João.”
- “Mas ainda ninguém me quis. Nem os meus pais me quiseram, nem os meus avós. Achas mesmo que alguém vais gostar de mim?”
- “Eu gosto de ti. E repara só estou contigo aqui há umas horas.”
- “Eras capaz de me levar para tua casa?”
Neste momento tive que respirar fundo, a voz embargou-se, o coração começou a bater a uma velocidade assustadora, os olhos esconderam o que o coração sentia…
- “Claro que sim.”
- “A sério? Levavas-me hoje?”
- “Sim João, levava-te hoje se pudesse.”
- “Não podes?”
- “Não, não posso.”
- “Porquê? Não te entendo. Dizes que se pudesses me levavas hoje e depois que não podes…”
- “Meu querido, para te puder levar comigo teria de reunir algumas condições, que ainda não tenho. Mas, acredita que se as tivesse tudo faria para te levar comigo, te dar uma família.”
- “Sabes eu nem sei bem o que isso é. Sei o que é estar aqui e ver os outros meninos como uma família, mas isso de família como oiço alguns colegas falarem não sei o que é. Não me lembro dos meus pais, de ninguém…”
- “Talvez um dia venhas a saber…”
- “Ás vezes acho que já passou o meu tempo. Um dia quando for grande não vou abandonar os meus filhos, vou querer saber deles…”
Conversei com o João, estive junto dele o tempo suficiente para perceber o seu vazio. Tive a Ana, o André e o Bernardo ao colo, crianças de tenra idade que nunca se recusaram ao colo de quem desconheciam. Crianças que choraram no momento em que as tive que por no chão. Principalmente a Ana…
Antes de sair por aquela porta voltei a olhar para o João, disse-lhe um adeus e antes que pudesse dizer mais alguma coisa, escutei-o: “És simpática. Davas uma boa mãe.” Não consegui dizer mais nada, dei-lhe um beijo e sai, cabisbaixa e com as lágrimas a correrem-me pelo rosto. Lágrimas incontidas. Fez-se um silêncio em mim…
8 Comments:
Escreves com a alma, mas acima de tudo escreves bem. A tua escrita é um toque profundo no coração de quem lê. Eu não pude ficar indiferente.
PauloM
Pois, como eu sei o q sentes, o k se sente em momentos assim... era muito nova qd fui visitar a casa do gaiato e desde esse dia prometi-me q qd chegasse o momento teria um filho e adotaria outro, infelizmente o meu marido n concordo e isso sao opções a dois... enfim, é uma necessidade q sempre vou ter, pq é triste,é muito triste ver uns com tanto e outros com tao pouco...
Enfim, gosto de te sentir humana.
Beijo
Carla, fiquei comovida com este teu texto. E esta frase:
"“Ás vezes acho que já passou o meu tempo. Um dia quando for grande não vou abandonar os meus filhos, vou querer saber deles…”
Bateu fundo. Bolas, como é possível uma criança de apenas 12 anos achar que o seu tempo já passou, tempo de ter uma familia, de ser feliz...etc
Custa imaginar uma criança a proferir estas palavras, imagino o quanto te deve ter custado ouvi-las serem ditas na primeira pessoa, sem teres de as imaginar.
Há muita coisa que está errada. As crianças mais novas têm sempre mais hipoteses de serem adoptadas ou acolhidas...algo deveria de ser feito...mas algo com pés e cabeça para que crianças como o João não digam que o seu tempo já passou. É muito triste de ler, no meu caso, e de ouvir no teu.
Beijinhos
Há tempos, tive oportunidade de visitar também uma dessas casas. Parte o coração ver como aquelas crianças agradecem a pouca atenção que possamos dispensar-lhes, a forma "pedem" atenção e carinho.
Bom resto de semana. :)
Não sei o que sentiria se me deparasse com uma situação semelhante,não sei mesmo. E cada dia que passa me apercebo que nos preocupamos com tanta coisa, insignificante, e nem sequer perdemos um pouquinho do nosso tempo para falarmos, pelo menos,para falarmos, sobre assuntos realmente importantes. Tenho pena de não poder fazer mais, e sei que sentiu um desespero terrivel por não poder ter feito nada por eles. Mas eu ainda tenho fé num futuro melhor...
Um beijinho
Antes de mais obrigado pela visita...
Este é um assunto tão melindroso de falar que nem sei o que dizer, mas uma história real que infelizmente tanto se repete, neste país neste mundo, palavras que nós comovem, e depois muitos se se na vida
Adorei Carla, o teu relato é comovente e a tua sensibilidade tem uma profundidade bela.
Não tenho mais palavras, apenas faz pensar.
Beijo
:'( poxa... fiquei com o coração apertadinho :s ... mundo cruel
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