quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Adriana II


As lágrimas estão tatuadas sobre este teclado mais uma vez. Escrevo a conta-gotas, ainda impedida de ver com clareza o que redijo. Mal desliguei o telemóvel, sentei-me em frente ao computador e deixei discorrer o que alma, trôpega, continha. A minha amiga Adriana está agora em casa, proibida de exercer a sua profissão durante mais um mês, no entanto, e porque os resultados dos exames voltaram a dar positivo, avizinha-se um período difícil e que, de acordo, com os médicos, se poderá prolongar pelos próximos meses. O mais provável é ela já não regressar à empresa em que trabalha durante este ano. Hoje, a alma viu-se mais enegrecida do que habitual, quando tive de enfrentar o nosso grupo de camaradagem e transmitir a mensagem de ausência de um pilar fundamental durante um período indeterminável. Em uníssono disseram “não podemos crer!” Ficamos ali, calados, cabisbaixos, sem saber do que falar, o que dizer, como nos apoiarmos. Foram seguindo para casa um a um, até ficarem numa sala, onde só as cadeiras nos faziam companhia, eu e o Bragança. O Bragança, aquele que se apresenta sempre muito forte, risonho, brincalhão e que se deixou quedar como uma criança que soluça sem mais. Percebi, naquele momento, que construímos um grupo de amigos, aqui, longe de casa, inigualável, indizível, na verdadeira acepção da palavra. “Estou triste, Carla, sinto o coração apertado pela Adriana e temo pela filhota dela.” Creio que bloqueei naquele instante. E inacreditavelmente comecei a dizer os maiores disparates de que há memória, a tal ponto que o choro deu lugar a risos incontidos. O Bragança pegou no filhote e arrancou para casa, eu aguardei pela saída de outra colega e no caminho de casa não abri a boca. Entrei num processo de indagação. Adriana sorri e vai dizendo que, agora que outros sabem, temem a aproximação daqueles que com ela privavam. “E isso é que custa, sabes?” diz-me ela. Não posso negar que não tenha já assistido a situações destas e que ao facto respondo, eu e os restantes amigos da Adriana, que “não há perigo de contágio porque fizemos os testes”. Claro que esta nossa afirmação contém uma ironia subtil e a troca de olhares entre nós teme pelo estigma que tu, Adriana deves estar a passar em silêncio.
Aguardo que o telemóvel toque e me digas: estou de regresso! Pegar no carro e ir aos “Homes” tomar um café e ficar ali em amena cavaqueira, por pouco tempo, mas com toda a nossa disponibilidade, sem as máscaras que temos de vestir durante o dia de trabalho. Soltar asneiradas, rir em voz alta, sermos nós mesmas em todo o nosso esplendor. A última vez que estivemos todos juntos, efectivamente, foi na noite de passagem de ano, eu, tu, o Araj, o teu “doce” e a tua menina. Depois disso o grupo dos compinchas de trabalho, amigos afinal, juntaram-se apenas no dia em que soubeste o que tinhas…
De nós – Bragança, Gigi, Sofia e eu (os compichas dos dias de labuta) – para ti:
As melhoras sinceras e a certeza inabalável que estaremos sempre aqui ao alcance de um telefonema e de braços abertos para te receber hoje e sempre. Aproveitamos para te dizer que desejamos poder trilhar muitos caminhos juntos, independemente, dos locais de trabalho que nos esperem (esta é uma forma de dizer que queremos continuar a acreditar que a vida não nos porá sempre a saltar de uma lado para o outro :).

7 Comments:

At 20 fevereiro, 2008 23:01, Anonymous Anónimo said...

De facto, só me posso sentir feliz por ter tido a oportunidade de a ter tido como orientadora. Amiga dos seus amigos, amiga e fiel seguidora dos seus principios. Quem a tem como amiga, ou como "inspiradora", como gosto de a chamar, tem muita sorte :) Adriana, você tem de ser uma pessoa muito especial, para ter desta mulher a amizade, porque ela não se dá assim sem mais nem quê. E se hoje me encontro no 2º ano de Direito muito lhe devo a ela. O meu obrigado eterno por ser assim. Lembra-se: "eu sou o que sou".?
Bem haja,
Nês

 
At 21 fevereiro, 2008 21:16, Blogger PoesiaMGD said...

Mas a vida continua e há que fazer reviver a esperança!
Um abraço

 
At 21 fevereiro, 2008 22:53, Blogger deep said...

Há uns anos, ao chegar a casa de fim-de-semana, recebi a notícia de que a minha melhor amiga de infância tinha uma doença grave que lhe tirara a visão. Fiquei sem chão. Fui para a rua e tudo, de repente, se tornou cinzento. Por mais que tentasse centrar-me em pensamentos positivos, a angústia era maior do que qualquer esforço. Felizmente, acabou por melhorar. Há que acreditar. Vais ver que tudo há-de correr pelo melhor. Não percas a esperança. Beijinho

 
At 22 fevereiro, 2008 00:34, Blogger clara branco said...

Não existe muito mais a acrescentar, a não ser as sinceras melhoras, e pensamento positivo, para que tudo corra bem, a cima de tudo, ela tem que se sentir acarinhada e querida por aqueles que a rodeiam, afinal os amigos são para as ocasiões! E esta é concerteza uma situação muito debilitante, física e mentalmente...
Força Adry!

 
At 22 fevereiro, 2008 20:03, Blogger calminha said...

isto é verdadeira amizade , verdadeiro amor, e amor gera amor
, a força do amor tb faz milagres , voçes todos seram uma força, para a Adriana e para voçes mesmos .coragem , e bom fim de semana

 
At 22 fevereiro, 2008 23:22, Blogger jocasipe said...

Comoveste-me com o teu relato. Sem nada poder fazer, desejo as melhoras`.
Abraço e bom fim de semana.

 
At 22 fevereiro, 2008 23:53, Blogger Simone said...

...Fiquei sem palavras...

Beijinhos

 

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