terça-feira, dezembro 30, 2008

Obrigada

Nos próximos dias estarei ausente. Não estarei propriamnete fora do país ou da localidade em que resido, mas estarei ausente para pensar. Preciso de umas doses de solidão para reflectir, acalmar, mas acima de tudo para procurar reencontar uma parte de mim que teima em desaparecer. Não consigo habituar-me ao grau de falsidade que impera por estes lados. Começo mesmo a acreditar que sou eu quem está errada. Mas se o estou estive-o sempre e talvez por isso se apresente fundamental um distanciamento de mim e de todos aqueles que fazem parte, de alguma maneira da minha vida. Preciso de tempo, de sossego e ausência de palavras que me indiquem caminhos, me mostrem trilhos, me apontem direcções. Sou, de facto, um bocadinho errante, para não dizer muito. Habituamo-nos depressa à errância, mas não nos habituamos tanto às nossas falhas. Confesso que ainda hoje, depois de já ter massacrado a cabeça com isso, não sei onde falhei ou se falhei. Mas isso é de somenos importância agora. Terei com certeza falhado, mas o que me dói mais é ter falhado não só por mim, mas por ter falhado por outras pessoas. Gostaria que findo este processo alguém tivesse tido a ombridade de me ter dado algumas palavras, que me tivesse dito alguma coisa, no entanto, desde que ajamos de acordo com a nossa consciência mal nenhum nos pode ser apontado. Saio desta viagem com a sensação de não ter sequer iniciado. Não me fere a saida, mas o gesto pouco ético e inestético de quem ousou dá-lo, esquecendo humanidade e frontalidade que tanto apregoam. Fere-me que se guiem por máximas de "mais e melhor" e na prática não sejam capazes de dar o exemplo. Que exemplo pode ser dado, quando nos escondemos atrás de uma qualquer carta ou e-mail e não temos a frontalidade suficiente para dizer o que se passou, qual o motivo que nos levou a? Não, nesta altura do campeonato, como já te disse, não quero saber o motivo, tão pouco o porquê, o que havia a ser dito foi dito no dia 23 deste mês, marcando indelevelmente o fim de ano, mas acima de tudo, destruindo a vontade de viver o Natal. Se considerarmos isto um gesto de sensatez e tentativa de melhoramento, então confesso-me profundamente confusa com os valores que imperam. Agradeço o convite para uma saida à noite, para um jantar, para um lanche, mas como já te disse, não posso ir, esgotaram-se as forças para continuar a fingir que está tudo bem, que sou uma "fortaleza" e não quero palmadas nas costas. Custa-me ainda saber que recusei ir para outros locais, e tive opção por dois, ainda há três semanas para agora me ver a braços com a sensibilidade deturpada. Sinto que foi em vão o esforço, que falhei como pessoa, como profissional neste últimos meses, coisa que nunca antes me tinha acontecido. E neste momento só quero esquecer, apagar a memória, encerrar um capítulo. Peço-vos, como tal, que deixem de me ludibriar, de tentarem criar em mim falsas expectativas, porque não pretendo continuar a adivinhar-me na incerteza do que desde há muito é certo. Quero terminar a guerra que não iniciei, sem ter de oferecer a bandeira da paz, porque estou convicta de que quem as inicia é que as deve oferecer, ainda que muitos possam apregoar que gestos que são seus, palavras que são suas, foram de outros. Não me interessa o que pensam ou poderão pensar ou virão a pensar, interessa-me encerrar de forma segura, sem mágoa ou dissabores este capítulo da minha vida. Talvez para isso tenha de me afastar deste local, repleto de paisagens naturais de rara beleza, mas se tiver de o fazer será o menos, para mim, sempre habituada a saltar de lugar para lugar. E nisto ninguém me pode apontar, porque nunca fiz da vida um mar de rosas, nunca cantei segurança, nunca tentei passar a perna a ninguém, nem menti para ser vista de outra forma, nunca me vitimizei e não será agora que o farei. Não será agora que penalizarei quem quer que seja, ainda que o pudesse fazer, mas não o faço porque não faz parte de mim. Não quero igualar-me ao nível dos que nunca tiveram senão vida fácil, aos que nunca tiveram senão que dizer estou aqui para que as portas se abrissem. Se um dia me vir além, será por mim, apenas pelo que sou capaz de realizar que lá estarei, não porque disse a alguém colocado no local certo: estou aqui. Na vida há dois tipos de pessoas as que o são e as que se perderam nesta construção. Não fui eu nunca que ousei dizer "palavras menos próprias, insultar pessoas, mandá-las para sitios menos próprios" em locais públicos. Mas ainda assim escutei-os, sem dizer palavras porque não queria ser igual. Enerva-me que mesmo depois disto não consiga senão sentir pena dela...sou assim... Nesta ausência que espero seja o mais breve possível, espero para a semana regressar aqui, quero fechar as cortinas do meu quarto ao mundo, e abri-las para outro mundo. E fico a desejar sair daqui para outro local.
A vós, e sabeis quem sois, o meu sincero obrigada e desculpem não ter tido capacidades para ir mais além.

5 Comments:

At 30 dezembro, 2008 18:41, Blogger deep said...

Só posso desejar que 2009 seja mais sereno e feliz. Um beijo grande. :)

 
At 31 dezembro, 2008 23:04, Blogger Ermelinda Silva said...

Não há no mundo nada nem ninguém que mereça a nossa inquietação,angústia ou desespero, a nossa alegria ou franqueza... a não ser a nossa Família e os nossos Amigos.

Somos seres sociais e devemo-nos uns aos outros também isso, e apenas isso!

A loucura anda à solta neste mundo mas a produzir o mal porque uma sã loucura gera tudo colorido e bom!

Difícil, difícil, é a gente abrir os olhos a tempo e conseguir imobilizar os monstros!

Ao Blog "Coisas sem Nexo" desejo o sucesso do "Nexo das Coisas".

Obrigada pelos bons textos partilhados e uma caminhada risonha e feliz!


Bj

 
At 02 janeiro, 2009 15:36, Blogger Ermelinda Silva said...

Citador de hoje:

"O que é belo é bom e o que é bom depressa será também belo"
Safo

Então: alcancemos o bom porque é meio caminho andado...

Cá está o cafezinho à espera da cavaqueira,de preferência nas nossas raízes!

Agora já é duplo, ou será tripo...

 
At 03 janeiro, 2009 16:50, Blogger Donagata said...

Força. Reflicta mas sem cair na tentação da culpa. As coisas são como são, e surgem como surgem muitas vezes de onde as não esperamos. Contudo, por muito que doa, o caminho é para a frente.
E mesmo quando erramos (um direito que todos temos), não é necessário autoimolarmo-nos.

Espero que o novo ano lhe traga também novas forças.

Um beijo

 
At 04 janeiro, 2009 20:38, Blogger Alien David Sousa said...

Carla, tudo de bom para 2009 e que encontres a serenidade de que precisas.
Beijinhos

 

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