segunda-feira, dezembro 22, 2008

Fizeram de ti criminosa...

Chora a alma, enlevada no breu…A vitimização não faz parte do seu rol de conceitos, erraticamente caminha por entre a multidão que se ergue sobranceira. Cai e ninguém a vê, talvez porque não seja aquela cujas capacidades e personalidade mais lhes diga. Nunca disse não a nada, escutou palavras de pouco apreço e hoje chora, na certeza de que não valeu..
Fecha-se em si, enreda-se na sua teia, teme sair à rua, ver caras, receia ter de dizer um olá. Vive sem viver, tão pouco sobrevive. Os dias discorrem cinzentos, alguns, negros, outros. Os olhos turvos da dor, o corpo pesado pelo jugo do medo, impedem-na de sair de si. A frieza dos gestos tomam forma, começa a ser tarde demais para ter forças para caminhar erecta. Olha à volta e verifica se pode estar ali, sozinha, sem nenhuma voz conhecida, sem que haja por perto algum rosto familiar. Fazem-na crer que é uma criminosa…
Deseja que as luzes de Natal se apaguem, que o frio gelado da noite lhe gele o sangue, que o sopro se dê por findo. A raiva é inexistente, a tristeza não sabe o que seja, só está presente a ânsia de apagar a memória, de começar do zero. Mostraram-lhe ou quiseram mostrar-lhe que os labirintos não têm fim, que se tem de esconder do mundo e como o caracol começou a pôr-se à sombra da concha. Hoje, a concha fria, serve-lhe de capa, de esconderijo em todos os momentos. O sorriso desapareceu, os sonhos foram-se e nas mãos lê a sinuosa sina de que o talvez se perde na certeza do incerto…
Porque apesar de outros irem, ela esvaziou-se, porque não marcou os seus próprios passos na areia… o pensamento não deixou a palavra sair e receia, receia tudo, inclusivamente as vozes dos amigos do outro lado da linha. Onde forem, ela já não terá forças para ir. Não pode voltar atrás, não pode dormir sem a tormenta dos seus fantasmas, não há imagens que perdurem mais do que alguns segundos e presa na corrente não consegue sair dela.
Amanhã levantar-se-á sem fulgor, sem vontade de caminhar, andará pelas ruas da cidade à espera de não encontrar os tais rostos familiares. E nestas voltas e voltas, o regresso a si não existe… Esqueceu o calor da lareira, o colo dos seus, deseja que os embrulhos colocados perto da árvore de Natal desapareçam de lá, levanta-se do sofá, colocado à frente da lareira e diz querer que o sinal de amor, de união, de verdade, que para si a árvore de natal representa, seja desmanchada. Pede que o sono a cale, que a vergonha desapareça.
Amanhã levantar-se-á desejando apagar-se da memória que tem de si e que outros lhe deram, não quer montar o puzzle constituído por inúmeras peças soltas. Desejará entregar as armas que depôs desde que se mudou para o local de eleição, mas que ousaram apontá-la como a melhor manobradora destas ferramentas. A vontade que impele a continuar quebrou-se, não há projectos ou sonhos, e pergunta-me: porquê amiga, porquê criar sonhos, idealizar projectos, comprar as minhas coisas, pensar no amanhã se num segundo tudo cai por terra? E porque me apontam como uma criminosa?
A lágrima solta-se mais uma e outra vez e dou por mim a dizer-lhe: corre-lhes nas veias sangue velho, moldaram-te e agora lançam-te às feras, tiraram-te a vida sem tirar e como foi isso possível não o sei. Perdi demais os teus momentos, nãos os acompanhei e recrimino a escolha de não ter ido além, de não te ter levado comigo… na sana loucura.

2 Comments:

At 28 dezembro, 2008 23:12, Blogger Ermelinda Silva said...

Para Ti, que estás prisioneira:

-Amanhã é outro dia!

-Quando o sol nasce, nasce para todos!

-A vingança tarda mas chega!

-Cá se fazem, cá se pagam!

-Água mole em pedra dura tanto dá até que fura!

-Mais vale tarde que nunca!

-O último a rir é o que ri melhor!

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"Não. Não vou por aí! Só vou por onde me guiam os meus próprios passos"

"Enquanto viver jamais deixarei de filosofar"

"Cantarei até que a voz me doa!"
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Pensamento positivo ajuda a dar a volta a tudo!

Não podemos querer o céu de repente.

A ANGÚSTIA FAZ MAL À aLMA!

O céptico é um malvado que só sabe duvidar de tudo e não nos deixa ter PAZ.

Levanta a cabeça e sorri. Vais ver que ficas melhor!
Amanhã podes não o poder fazer!

Anda pela casa e grita!!! Solta imprecações, liberta-te do medo, pacifica-te.

Depois volta a olhar para fora de ti. Não será perfeito mas será menos mau!

Ergue a tua taça de elegância e não deixes que ninguém beba dela. Que vão pastar, aprender a ser; depois... deixa que provem do teu vinho!

Não te incrimines por crimes que não cometestes.Deixa o julgamento para os juízes!

És pura demais para te conspurcares assim, para te mortificares.

A tua mão não a dês gratuitamente, os teus acenos, sejam só para ti e para o teu espírito, mas o teu sorriso faz falta ao mundo acinzentado.

Sorri à Vida. A Morte não te vai matar porque tu és eterna como o teu profundo ser, a tua essência, o maior de ti mesma que não te tem se não a ti.

Por ti os teus passos seguirão rectos; não deixes que alguém se entreponha entre ti e os teus passos.

Deixa "Pegadas na Areia" para poderes regressar se te enganares no caminho!!!

Anda devagar para poderes observar tudo com muita atenção e beberes da vida o belo que tem cada dia.

Desejo-te boa sorte para rebentares a cadeia e fugir na direcção da liberdade...

 
At 29 dezembro, 2008 01:04, Blogger Donagata said...

Texto belíssimo mas tão triste, tão sem alento que me deixou preocupada e triste.

Não sei como ajudar a criar outro ânimo; a ultrapassar essa dor. E isso faz-me sentir mal, impotente, devia poder animá-la.

Amanhã é outro dia e tudo poderá ser diferente. Seja o mais positiva que for capaz.

Um grande beijo.

Ps.Tem uma selecção de poetas e de poemas que eu aprecio verdadeiramente.

 

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