"Castigo em forma de aplauso"
Com a porta entreaberta, escutei-te, deixei que falasses... Mas não consegui dizer-te uma palavra. Com a cabeça consenti ou neguei, mas fiquei-me por aí. Não podia, a personalidade não me deixa, olhar-te com os mesmos olhos, falar-te com a mesma alegria como te falei meses antes. Antes o sol encandeava o olhar e eu não via ou não queria ver. Hoje, deixo que a distância oral e física fale por mim. Não, não estou zangada contigo, estou zangada comigo, por me ter permitido acreditar.
E o acreditar, este, como tantos outros, não é mais do que o querer, o desejar ter esperança suficiente no ser que se desvela, encontrar alguma segurança no passo que se dá, ter alguém (um amigo) capaz de lhe conferir identidade. Porquê? porque somos seres sociais por natureza, porque não nascemos para estarmos sós, mas temos e devemos estar sós no momento em que assumimos as nossas responsabilidades, como dizia Sartre. Neste momento, o meu momento, estou só, na reflexão que se desenha na distância necessária para fazer uma restrospecção e avaliar formas de lidar contigo, sem te ferir na "mimalhice" de quem dorme à sombra do " o outro faz", e recebes o "castigo em forma de aplauso".
Nem tudo o que é justo é ético, nem tudo o que é ético é justo, mas quando o desiquilibrio entre o justo e a ética causa dano na pessoa, a produção fica ameaçada...
1 Comments:
Mais um belo texto, pessoal e transmissível. Isto serve para todos. É um "recadinho ético", daqueles que se dão na hora certa!
Parabéns!
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