
Canta com a expressão de quem ousa pensar por si. Ouve o sonho e sabe que só a alguns é oferecido ler o mais íntimo de si. Que adianta saber as marés a quem só vive dos seus engenhosos oficios?
E assim errante, já cheia de andar calada, deixa poisar o olhar sobre a imensidão que desperta da sua janela e por dentro sente o peito que vibra, sacudindo o medo... Lê poesia, faz poesia, deixa cair a máscara de dureza e retorna a si. Permite-se entrar no barco, ancorado no mar que só ela vê... âncora fora, parte olhando, absorvendo a vida que se estende. Escuta a voz que lhe diz: "aproveita-a, deixa que ela te toque." Porque Nuria não quer pactos e alianças, elas são bom remédio para quem não quer ver além do seu pequeno mundo. Nuria quer ir além de si, sonhar, poder projectar-se...
Olhando o azul do céu que se estende, depressa se apercebe que começa a anoitecer. Algo trémula, lança os olhos sobre a água e verifica que hoje tem um brilho especial. O brilho de quem renasce. Enquanto a mente se admira com a beleza, devolve-lhe a memória os rostos das gentes que ficam indelevelmente ligadas à história de vida de cada um. Correm à sua frente imagens de inequívoca raridade e solta um sorriso aberto, porque toma consciência que também ela tem uma história de vida por fazer, que sempre que o vento e a chuva lhe aparecerem tratará de lhes fazer frente. Porque Nuria escreve a cada dia que passa o seu livro, a sua história de vida, imprimindo-o nas rugas que começam a aparecer, no corpo que começa a sofrer alterações, na forma desprendida com que dá o seu melhor a cada tarefa que realiza. Nuria atravessa o mar, lança o olhar mais uma vez sobre a imensidão de beleza e sussurra aliviada.
2 Comments:
Gostei!
beijinhos
Numa palavra: adorei.
Parabéns!
Enviar um comentário
<< Home