sábado, agosto 16, 2008

Minha terra...


Já lá vai algum tempo desde o meu último post. Tempo não ainda suficiente para dedicar a todos os que fazem parte da minha história de vida. Ainda não desfiz as malas; continuam encaixotadas algumas coisas, outras começam a ser encaixotadas. Estou de malas às costas, outra vez. Vou em direcção ao Alto Minho, vou para junto do verde, das águas cristalinas do rio Vez. Quanto tempo ficarei por este local, não sei. Ficarei, pelo menos um ano, depois logo veremos que paragens me estão reservadas. Há quem diga que Portugal é pequeno, mas não tão pequeno que nos permita fazer as pontes essenciais. Caminho errante há 5 anos, entre Viana do Castelo, Castelo Branco, Covilhã, Viseu, Algarve e agora Arcos de Valdevez. Os Açores e a Madeira não estão fora do horizonte. Não receio a distância, mas quando regresso dos locais por onde passo verifico que perdi muito na vida de cada um... Este mês ando especialmente sensível. A cada passo a lágrima teima em querer correr. Este é o mês em que revejo familiares, amigos emigrados, e os instantes são breves... Na sensibilidade que desponta a cada encontro há coisas de rara beleza, como a que aconteceu hoje. Sai de casa para um passeio em família e fomos percorrer os caminhos íngremes de uma aldeia que muito estimo: Ruivães (Vieira do Minho). Saimos de Vale (lugar da Freguesia e onde tenho casa) e fomos a pé até aos Prados, um terreno de rara beleza, onde os pulmões se enchem de novo fulgor face à beleza que o olhar consegue alcançar. Procuramos, no local, o cemitério antigo, conhecido como o cemitério de S. Cristóvão. Ainda que conheçamos o local, foi tarefa árdua conseguir encontrá-lo, tal é o estado de esquecimento e abandono. As sepulturas estão cobertas de mato, algumas das que ainda se conseguem ver mais ou menos, estão parcialmente destruídas.
A alma que até então sentiu a união perfeita com a natureza, ficou perplexa, triste. Pensou de si para si: tanta beleza, tanta história, quantos segredos terás tu aqui escondidos ( mesmo que os tivessem já descoberto, é património histórico da região) e a capela que aqui existiu em tempos que é feito dela? Comigo seguia um aficcionado de História que ficou boquiaberto com a degradação do sítio, ainda para mais quando há algum tempo atrás se diz ter havido uma pesquisa no local. Não nego a existência desta pesquisa, mas recrimino a forma como as coisas permaneceram ao abandono, como nada se alterou. Do cemitério de S. Critóvão continuam a fazer jus, falando dele, mas para quê falar de um local, cujo interesse parece ficar apenas pelo papel, pelo diz? Que interessa que dele se fale, se aponte a importância do povoado de S. Cristóvão, se façam escavações, se indique a sua localização, se depois, quando chegamos ao local, não vemos mais do que um amontoado de mato, que o encobre. Só quem sabe que ali existiu em tempos um local sagrado e o viu menos abandonado consegue encontrar alguns vestígios dele.
Não venham agora dizer-me que tive uma ilusão óptica, como noutras alturas o fizeram, não me apontem caminhos que não existem. Será que todos nós, que hoje, calcorreamos os trilhos desta localidade sofremos do mesmo mal? Verificamos com agrado melhorias a nível de caminhos perto do local, mas este continua votado ao esquecimento. A desertificação das aldeias circundantes não pode servir de desculpa para tudo, até porque algumas há, ali bem perto, que padecendo do mesmo mal, começaram a dar exemplo do que pode ser feito.
Uma placa a indicar a existência de locais como este já não seria mau (se as há não as vimos). Incomoda-me ver reliquias culturais assim neste estado. Pena que não tenha levado as pilhas da máquina carregadas (é o que dá não verificar as coisas antes de sair de casa) para atestar aquilo que vos digo. Fica a intenção, mais uma vez, de que alguém ao ler estas palavras faça alguma coisa.

Boa semana a todos!

7 Comments:

At 17 agosto, 2008 10:52, Blogger Donagata said...

Carla, infelizmente é assim no nosso país. Não há vontade política(provavelmente não haverá dinheiro também, mas há-o para outras coisa quiçá menos importantes), para preservar e dar a conhecer o nosso património histórico/cultural e os poucos VOLUNTÁRIOS, normalmente ligados às universidades, debatem-se com falta de tudo; desde os recursos humanos aos materiais.
As autarquias que podiam e deviam apoiar a manutenção desses locais, estão normalmente voltadas para outros lados mais visíveis e, consequentemente, mais proveitoso em termos eleitorais.

Contudo, algumas coisas estão mudando, muito lentamente, mas estão (Se estiver interessada leia o meu post "O menino de Lapedo"). Só que para que isso aconteça é necessário o empenho sério de alguns.

Um beijo e espero lê-la mais animada.

 
At 18 agosto, 2008 01:36, Blogger deep said...

É mesmo assim: a preservação do património não dá dinheiro nem votos, daí o esquecimento e a degradação...

Aproveita bem estes dias junto daqueles de que gostas muito.

Fica bem. Beijinhos

 
At 18 agosto, 2008 16:53, Blogger clara branco said...

Parece que já sinto o cheiro a verde, o ar fresco, a humanidade, a boa comida, e tantos outros adjectivos dessa região. Carla, desejo-te tudo de bom, afinal, somos o que fazemos, é preciso ter coragem e espírito nómada para encarar a vida com ânimo.O que é frustrante no meio disso tudo, são os que deixamos para trás, mas estou certa que compreendem.Tudo de bom, esperando que voltes bem mais feliz.
um beijo

 
At 22 agosto, 2008 15:29, Blogger Nuno said...

Ao que me parece, isto é assim:

1. Não há estabilidade profissional o que a meu ver é um erro crasso. Ora vejamos, se não houver estabilidade dificilmente se poderá construir uma família com a estabilidade desejada. Depois deparamo-nos diariamente com os problemas graves resultantes da educação menos conseguida por parte dos pais. E tu vês isso nas escolas. Encontramos violência, droga, alcoól...
As pessoas responsáveis pelo país não estão preocupadas com os valores humanos, por isso se aprova a lei do aborto, quando se deveria apostar na estabilidade profissional e consequentemente na construção familiar.

Já viste que o único ponto positivo foi conheceres mais a fundo cada um desses locais!
Melhores dias virão!

2. Somos um País sem dinheiro (pelos menos para a maioria). As Juntas e Câmaras andam "depenadas" e o pouco dinheiro que existe é normalmente canalizado para realizar obras com mais visibilidade. Não te esqueças que Ruivães fica muito longe de Vieira do Minho. É lá (Vieira) que interessa dar visibilidade! Apesar de não haver grandes mudanças os políticos vão achar Ruivães muito mudado! Quase só lá vão de 4 em 4 anos. :-)
Para os políticos a Cultura é um "alvo a abater", mas ficam os TGV's, Ota's e num ponto mais reduzido, caminhos públicos, arranjos "cirúrgicos"... Ou seja, apenas o que dá votos e dinheiro aos "amigos". Ao longo dos últimos anos temos construído um país alicerçado em números e estatísticas e enquanto assim acontecer não vamos a lado nenhum.

 
At 24 agosto, 2008 20:54, Blogger paulo miranda said...

foi feita uma pesquisa recentemente mais acima, pois diziam haver lá uma mamoa, e o resultado a qua chegaram foi permitir a construção de uma sub-estação electrica! em s. cristóvão há mato a cobrir todo aquele lugar, o que é uma pena. talvez se o local ficasse mais perto das sedes do poder as coisas seriam diferentes.
infelizmente o que disseste sobre o s. cristóvão aplica-se a todos os sítios de interesse que a freguesia tem; a própria misarela está deitada ao abandono. de nada adianta ser o sitio mais visitado da freguesia (creio que seja). depois temos caminhos romanos que estão a ser destruidos e também ninguém quer saber. enfim, a lista é extensa, ficavamos aqui a noite toda e hoje nem me apetece muito escrever.

 
At 30 agosto, 2008 09:58, Blogger Ermelinda Silva said...

As coisas já estiveram bem piores.
Hoje encontra-se catalogado e em ritmo de preservação grande parte do património arqueológico do Concelho. Temos de elogiar o trabalho feito pela equipa de investigação da unidade de Arqueologia da Universidade do Minho a que o Município deu apoio para a publicação das obras e não só.
Mas é verdade que não se está ainda no local.
A pesquisa foi feita e apresentada em livro; cabe às autarquias(Juntas de Freguesia) interessarem-se pelo que existe em cada terra e que é património de todos, e preservar, gastar dinheiro, mandar limpar e isolar os sítios dignos de deles tirarmos partido no turismo e continuarmos a história das nossas aldeias.
As Juntas, normalmente, só atendem coisas do dia-a-dia, assuntos burocráticos... Gastam pouco tempo ou nemhum aspectos ligados ao social(que também tem um certo interesse), como comes e bebes, convívios, caça...não lançam um olhar mais lúcido e concreto sobre a cultura.
Também quem é que elegemos para esses cargos, não é?
Os letrados não querem tomar as rédeas da política doméstica por acharem que não vale a pena gastar tempo com isso.
às tantas não é uma atitude correcta estarmos-nos sempre a lamentar se nós próprios pouco ou nada fazemos para melhorar a mentalidade das nossas terras.
Há que apostar principalmente enquanto se é jovem!

 
At 30 agosto, 2008 15:05, Blogger paulo miranda said...

espero que ontem tenha sido dia de sorte! não, não estou a falar do euromilhoes, mas sim da colocação.

bom fim de semana!

 

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