segunda-feira, dezembro 28, 2009

Desejos

Sentada no aconchego do lar, com a lareira por companhia, vou escutando e vendo a chuva a cair, intensamente, lá fora. Faz frio, é Inverno filha, diria meu avô a uma afirmação destas. "É tempo dele!", acrescentaria ainda. A conversa prolongar-se-ia, estou certa, contar-me-ia histórias do passado e falar-me-ia no futuro. Eu escutá-lo-ia com toda a atenção, deliciar-me-ia com as suas histórias e deixar-me-ia levar pela imaginção, criando eu própria os cenários que ele me indicava. Eram momentos belos, de uma beleza incalculável. Com o aproximar do fim de mais um ano, recordo momentos, gestos, pessoas que me marcaram. Lembro-me de episódios vários, de sons e cheiros e deixo no ar, pela escrita neste blogue, os meus desejos para 2010:
Espero conseguir a serenidade depois de uma tempestade que se prolongou por dois anos, continuar a vencer a luta contra a tristeza que silenciosamente me invadiu e me agrilhou. Espero conseguir continuar a trilhar caminho na profissão que me escolheu, estes são os meus desejos para mim. Aos que me visitam, aos meus amigos e colegas (sim, porque faço distinção entre uns e outros), os meus votos são estes:
Que os sonhos não desapareçam, que os obstáculos vencidos soem a vitórias, que vejam os erros como uma aprendizagem! Não se esqueçam de dizer e mostrar que amam, que gostam, afinal o tempo é curto! Que 2010 seja o melhor possível.
Até lá, um bem haja!

quinta-feira, dezembro 24, 2009

sexta-feira, dezembro 11, 2009

...

Não sei porquê, mas hoje estou com a nítida sensação que deixei sair uns quantos impropérios. Pronto, não é sensação, é a realidade. Quem não faria como eu? Acordei com um telefonema de me pôr a bradar aos céus, melhor dizendo, de mandar tudo para outro lado, à boa moda do norte. Ou então não, ignorar, como se isso fosse possível em mim. Até eu me rio com a minha capacidade de ignorar. Muito amo ou odeio, este ser esquisito (eu). Depois, seguiu-se uma leitura dos jornais, já que só vejo televisão ao fim-de-semana. Mal abri as primeiras páginas dos jornais, fiquei irada, pensei de mim para mim: este mundo, em vez de evoluir retrai-se, vive de soberba mesquinhez. Não é só a crise financeira, a nível mundial que me assusta e me deixa seriamente preocupada com o futuro, mas a tacanha mentalidade que ainda se vive em pleno século XXI. Para perceberem a minha ira, aqui fica a notícia:
"A vida dos homossexuais no Uganda está seriamente ameaçada com a preparação de uma nova legislação que prevê a pena de morte. A família e os amigos podem ser condenados até sete anos de prisão se não denunciarem às autoridades os casos e até os proprietários de imóveis podem ser presos se alugarem casas a gays.
Os activistas pelos direitos dos homossexuais já vieram condenar a legislação, que tem merecido a contestação internacional, considerando que promove o ódio e é um entrave ao combate contra a sida no país. Para os activistas, trata-se ainda de uma reacção de um movimento retrógrado ao crescimento de visibilidade dos homossexuais no continente africano.
As medidas foram apresentadas depois de um grupo de líderes conservadores norte-americanos terem visitado o país, onde apresentaram terapias para converter os gays em heterossexuais. Ainda assim, dentro deste grupo de católicos há críticos da nova legislação.
As novas regras têm ainda de ser debatidas e votadas, mas os activistas gays acreditam que as novas regras vão ser aprovadas."
Decididamente não consigo perceber estas fobias, nem quero tentar percebê-las, em boa verdade tenho de o dizer. Não consigo conceber que se condene à morte quem quer que seja, muito menos, quando se condena porque sim, porque são pessoas diferentes. E os Norte-americanos que tanto apregoam e se orgulham da sua estátua da liberdade, são afinal os que mais oprimem, mais ideias ignóbeis têm, que fazem jorrar leis que mostram uma clara soberba pelo poder, quase a demonstrar uma veia purificadora, que me faz lembrar algo já passado na História recente. Assusta-me lembrar que durante anos, os surdos forma maltratados, votados ao esquecimento, ostracizados, lhes agarraram cordas aos pescoços simplesmente para ver se os obrigavam a falar. Foram vistos durante anos como pessoas sem faculdades intelectuais, sofreram horrores para serem, tardiamente, a meu ver, vistos como seres humanos. Valha-nos que hoje isso já não acontece, que os incluimos na sociedade. A cadeia de valores, que se desejava evoluisse está hoje submersa, invertida. Pesa o eu, a aparência e o Ser, onde está? Esse é aquele que deve imperar, digo eu.
Não me alongo, caso contrário ficaria aqui a discorrer longas horas sobre o tema, até porque o essencial já foi exposto.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Desabafo

Pelas ruas do passado calcorreio caminhos e a alma fica presa num passado presente. Diz-me minha alma para onde posso ir, quando saio de ao pé de mim e vejo que no sopé da montanha o receio torna? Alma, minha alma, diz-me que errante sou? Diz-me quem pode ter traçado um destino tão incerto? Alma, minha alma, diz-me porque procuro o que não encontro? Diz-me por que sou tão misteriosamente uma incógnita?
Tantas voltas, tantas horas debruçada sobre o amanhã...e esqueci-me de te dizer: "gosto de ti". Como pude esquecer-me de soletrar levemente palavras simples e sentidas, não o sei. Estava presa a mim mesma sem me conhecer. Esqueci-me de mim, de viver, de sonhar e acreditei, veementemente, que pouco me estava já reservado. Neste presente que me é dado, começo a deixar que aquilo que me foi proibido, torne. Desbravo ainda caminho, mas torno, começo a lembrar-me de mim, dos outros. Desfolho páginas perdidas na memória e vejo que me esqueci de te dizer: "gosto de ti". Perguntar-me-ão como foi possível? Quando nos encerramos em nós, o nosso mundo é o nosso terreno sagrado, o que está fora de nós é o profano que nos engole. Só na nossa própria segurança, que é afinal insegurança, nos sentimos seguros. Pode alguém compreender isto? Não, apenas quem já o viveu e teme que possa voltar. Hoje, minha amiga, lembrei-me de te dizer: "gosto de ti". Deixei de ter medo de mostrar os meus sentimentos. Consegui quebrar mais um obstáculo... consegui vencer mais uma etapa. Depois de ter estado encerrada em mim durante 2 anos, conseguir dar estes pequenos passos, que para mim são grandes, é uma vitória.
Passo a passo vou-me permitindo aparecer, mas não nego que continuo com receio de que a tristeza me invada. Como um pássaro voei, sai do meu porto seguro, mas renasci!

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Homo...hetero...afinal somos todos iguais!

O fogo queima, pensamos que nunca nos acontecerá, que o amor é desigual e não conseguimos ver além. Percorro as ruas do meu imaginário, encontro nelas momentos desperdiçados, sonhos desfeitos, crenças que de tão inabaláveis quebraram. Estou aquém, as forças tomam-me de assalto e facilmente transparece no rosto o desânimo. Cruzo as ruas por tempo suficiente para perceber que a cada esquina espreita o preconceito. Quando de repente toca o sino da igreja, fora de horas, paro e deixo que o meu olhar se quede no nada. Quantas vezes subimos vãos de escada para mais rapidamente os descermos? Travamos batalhas contra os nossos pensamentos mais aterradores, desejamos que nos ouvissem? Antes de iniciarmos uma batalha importa procurar conhecer o campo em que a vamos travar. Irritada será, porventura, o adjectivo que caracteriza o meu estado de espírito, nesta minha viagem por estas ruas. Levo como acompanhante a lua e os meus pensamentos soltos.
Pergunto-me: e se eu tivesse o condão de escrever os vossos nomes em cada estrela? E se eu pudesse ter o condão de poder continuar a limpar as vossas mágoas? E se eu pudesse memorizar cada palavra que o Ricardo me foi dizendo? E se eu pudesse ter o condão de continuar a tua luta? E quantos Ricardos não há por aí, esmagados pela torpe mente dos que se julgam normais e condenam à “anormalidade” os que são diferentes?
É preciso um novo começo, é urgente olhar sem altivez, ver na diferença a igualdade. Mais uma vez, aqui estamos, só tu e eu, sentados a olhar o horizonte que se perde, olhar pousado no nada, a discorrer sobre o mesmo tema. Ainda te oiço dizer que a intolerância é própria de quem é fraco de espírito. Olho para ti e só consigo esboçar um sorriso ténue. Quero-te dizer que o meu coração sabe, o que há muito me queres dizer, mas que a boca não deixa.
Mais um dia passa e não consegui que o dissesses. A seu tempo o ouviria de ti. Recordas-te? Nesse ano, dava aulas no Algarve, eram duas horas da manhã, sensivelmente, quando uma mensagem me caiu no telemóvel (ainda sei as palavras de cor): “estou à tua espera. És tudo para mim.” Lembro-me tão bem, como se fosse hoje. Sem delongas, permiti-me responder: “Creio que a pessoa visada não sou eu…que ele te faça feliz e te trate bem.”
Não me dei conta, na hora, do que havia escrito. Poucos minutos depois, ligavas-me, a conversa foi curta: “desde quando sabes?”.
“Sei o quê?” – perguntei.
“Sabes que sou…sou…” - Ricardo
“Se fosses directo ao assunto era mais fácil, certo? Não sei ao que te referes.” – disse
“Aquilo da mensagem...que namoro.” – Ricardo
“Sim…que te enganaste no destinatário. Desejei-te felicidades, é por isso?”
“Obrigado.”
Desligaste o telefone. Sem perceber a conversa decidi verificar a mensagem. Só ai percebi que, a minha espontaneidade, tinha conseguido aquilo que até então a nossa amizade ainda não tinha alcançado.
Passado alguns meses, fomos tomar café, juntos. Deixei que fosses tu a falar, mas só conseguiste dizer-me: “obrigado por me aceitares pelo que sou.”
Hoje, alguém me disse: O Ricardo é homossexual sabias? (a forma como foi dito matou-me).
Sabes como respondi (sei que sabes, à moda pronta): E depois? Já viste a tua sorte, sobram mais mulheres para ti…
Na diferença encontrei a segurança de um ombro amigo, na diferença encontrei a igualdade. Somos todos diferentes. Quem está mais certo Ri, eu que sou diferente de ti ou tu que és diferente de mim? (esta é a nossa pergunta de eleição).
Homossexualidade é apenas mais um conceito.
Heterossexualidade é apenas mais um conceito.
Amizade, respeito, tolerância, aceitar a diferença como parte integrante de cada um (afinal somos todos diferentes, seres únicos e irrepetíveis), isso sim é premente!