segunda-feira, novembro 26, 2007

Deixa...

Busca em ti a voz
A tua voz
A que só tu escutas
Que só tu sabes,
Indizível mas tua!

Busca o olhar que é teu
O que nenhum outro vê
Deixa arder na fogueira a dor
Que de tão apertada tolda a cor.

Busca em ti a voz
Da dor que teima em querer ir
Do sonho que ficou preso
Do despertar que se insurge.
Não te deixes vencer.

Deixa…
Olha, não ouves já a voz?
É a tua voz…
Escuta-a, deixa-a falar
Sussurrar-te ao ouvido
Deixa que ela te erga…

sábado, novembro 24, 2007

A vós...




Esta é uma retribuição à surpresa que me prepararam. Para quem me lê: estes meninos são caloirinhos!!! Decidiram preparar-me uma surpresa no dia do meu aniversário e por esse motivo aqui fica uma retribuição singela.

No “obrigado” sentido, na memória que teima em prender-vos, no coração que bate por vós, nas lágrimas que correram aquando da pequena grande surpresa, a certeza de que o futuro vos pertence e que por isso vos compete semear, tratar bem das sementes para podereis vir a colhê-las. Agora fica a amizade e a certeza de que vos acompanharei vida fora!

quarta-feira, novembro 21, 2007

Distâncias...

Não te peço palavras. Não te peço gestos. Apenas que permaneças assim, irredutível, singular... A distância penosa obriga a ultrapassar intempéries raras. Os momentos em que ela se esgota num abraço sentido são curtos, dando azo a lágrimas sentidas ao final das tardes dos Domingos. O coração começa a dar sinais de alguma fraqueza. Está cada vez mais apertado, tornando árduo o simples movimento do bater. Ah! que saudades de cada instante, de cada gesto, enfim de ti! Do nós que se mantém vivo na fugacidade de breves momentos. Discorre o tempo, a sua marca tatuada a penosos sacrificios. Ainda aqui estamos, amor. Quem diria que iriamos aguentar tantas tormentas, novas se avizinharão, porventura. Consegui-las-emos, ultrapassar com a mesma voracidade, com as mesmas certezas, com as mesmas esperanças? Nunca sentes as forças desvanecerem-se, não receias que esta luta pelo amanhã nos faça perder de nós mesmos? Não temes a solidão dos dias em que não me vês, mas imaginas? Os ses não te arrebatam? Esta luta é travada há 8 anos. Os últimos 5 numa distância de quilómetros que vai aumentando. Ainda ontem eramos tão cheios de sonhos e certezas, hoje move-nos o sentimento e a firmeza das lutas que continuamos a travar. Fazemos dos 620 kms que nos separam a distância minima de quem almeja...
Porque quem ama acredita, porque querer é poder e porque crer é vencer!

segunda-feira, novembro 12, 2007

Encoberta pela nuvens...



E hoje estou assim, encoberta pelas nuvens, taciturna como já não me lembro. Cansada desta vida errante...

Dói-me a alma! Em vão me parece o esforço de tentar incutir valores numa sociedade cada vez mais egoísta e claramente presa ao facilitismo exacerbado. De que vale dizer o contrário se as próprias políticas se apresentam contraditórias? De que vale tentar despertar do turpor as mentes dos que oferecem relutância ao saber e à novidade? De que vale fazer das forças a nossa ferramenta, trabalhar arduamente, dar tudo de nós, encetar uma luta contra nós mesmos se a resistência permanece? Se tudo é questionável? Questionável por que sim, questionável por que me apetece...

O dia, para muitos, chega ao fim à hora marcada, o trabalho fica para trás... Ah! quem me dera ter vida própria, ter horário de trabalho fixo! Chegada a casa "enfio" a cabeça nos livros, leitura, pesquisa, fichas de trabalho, trabalhos para ler e analisar e ver cópias (de trabalhos) integrais da internet (também questionáveis por sinal). O meu dia está a terminar por volta das 2 da manhã. As olheiras, por muito corrector que se coloque, já não se conseguem disfarçar, o mau humor começa a fazer das suas. A dor de estômago aparece como consequência do nervosismo e do cansaço. Trabalhar, estar longe daqueles que nos apoiam e o muito que se faz em nome do ser mais, sempre em xeque. Se às vezes olhassemos para dentro de nós talvez conseguissemos reconhecer o esforço dos outros, digo eu que nada percebo...

E para melhorar o dia, o carro está na oficina com uma avaria...

E como diria Khalil Gibran: "Alguns ouvem com as orelhas, outros com o estômago, outros com o bolso e alguns, simplesmente, não ouvem."

quarta-feira, novembro 07, 2007

O erro...


O dia decorria dentro da normalidade, o céu azul e a calma das águas faziam antever um final de tarde a olhar o horizonte. Um sobressalto fez-me erguer do local imageticamente construído onde me encontrava sentada e a respirar a brisa sentida. A tua voz, inigualável, encheu um coração apertado de ânsia, de esperança. A esperança por um regresso, de um si mesmo.
Trémula, receosa, talvez, escutava atentamente cada palavra soletrada, cada momento de respiração. A esperança desapareceu e uma bruma desconhecida toldou o olhar crente.
Longa, a curta conversa! Ainda que não estivesses presente fisicamente conseguia adivinhar todos os teus gestos, o corpo debruçado sobre ti mesma, encerrando um ciclo de vida…
Aquela força da natureza, vencedora, apta a rumar pelos seus sonhos, a lutar pelos seus objectivos desapareceu e esta que hoje escuta e vejo sem ver não passa de uma réstia de outra que não tu.
Voaste e as asas começam a dar sinais de fraqueza, qual voo de Ícaro! No frémito arrebatador, no impensado para nós, conduziste-te para a ponta de um abismo. A linha que te separa do abismo efectivo é ténue, esguia… Um pequeno passo mais e perder-te-ás nele como um grão de areia entre os outros.
Para nós permanecerás, sempre, um ser único, singular, irredutível! E ainda que não concordemos, compreendamos o porquê – mas coisas há que nem o próprio consegue explicar – respeitamos a tua escolha. Hoje, pareceste-me consciente do logro do caminho escolhido, mas não segura o suficiente para o assumires.
Porque as palavras me falharam na hora deixo-tas aqui: o erro é uma ferramenta essencial ao percurso humano, importa, por isso, que olhemos para ele com um olhar atento, aberto, capaz de nos impulsionar para ser mais.

sábado, novembro 03, 2007

A maior prova de virtualismo...

"Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, porque queria aproveitar os poucos minutos que dispunha naquele dia, para comer e acertar alguns bugs de programação num sistema que estava a desenvolver, além de planear a minha viagem de férias, coisa que há tempos que não sei o que são.Pedi um filete de salmão com alcaparras em manteiga, uma salada e um sumo de laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime não é?Abri o meu portátil e apanhei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:- Senhor, não tem umas moedinhas?- Não tenho, menino.- Só uma moedinha para comprar um pão.- Está bem, eu compro um. Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mail.Fico distraído a ver poesias, as formatações lindas, a rir com aspiadas malucas. Ah! Essa música leva-me até Londres ou até Paris e às boas lembranças de tempos áureos.- Senhor, peça para colocar margarina e queijo.Percebo nessa altura que o menino tinha ficado ali.- Ok. Vou pedir, mas depois deixas-me trabalhar, estou muito ocupado, está bem? Chega a minha refeição e com ela o meu mal-estar. Faço o pedido do menino, e o empregado pergunta-me se quero que mande o menino ir embora.O peso na consciência, impedem-me de o dizer. Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pão e, mais uma refeição decente para ele. Então sentou-se à minha frente e perguntou:- Senhor o que está fazer?- Estou a ler uns e-mail.- O que são e-mail?- São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet (sabia que ele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me dequestionários desses):- É como se fosse uma carta, só que via Internet.- Senhor, você tem Internet?- Tenho sim, essencial no mundo de hoje.- O que é Internet?- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas,notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar,aprender. Tem de tudo no mundo virtual.- E o que é virtual?Resolvo dar uma explicação simplificada, sabendo com certeza que ele pouco vai entender e deixar-me-ia almoçar, sem culpas.- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos tocar,apanhar, pegar... é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamosde fazer. Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo em quase tudo como queríamos que fosse.- Que bom isso. Gostei!- Menino, entendeste o significado da palavra virtual?- Sim, também vivo neste mundo virtual.- Tens computador?! - Exclamo eu!!!- Não, mas o meu mundo também é vivido dessa maneira...Virtual. A minha mãe fica todo dia fora, chega muito tarde, quase não a vejo,enquanto eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que vive a chorar de fome e eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa, a minha irmã mais velha sai todo dia também, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, porque ela volta sempre com o corpo, o meu pai está na cadeia há muito tempo, mas imagino sempre a nossa família toda junta em casa,muita comida, muitos brinquedos de natal e eu a estudar na escola para vir a ser um médico um dia. Isto é virtual não é senhor???
Fechei o portátil, mas não fui a tempo de impedir que as lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino acabasse de literalmente "devorar" o prato dele, paguei, e dei-lhe o troco, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi na vida e com um "Brigado senhor, você é muito simpático!"Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos!"

A leitura deste testemunho deixou-me sem fôlego. Muitas foram as questões que se ergueram e exigiam resposta urgente. Uma restou maior do que as demais: "Que maior prova de virtualismo do que a deste menino?"