domingo, junho 22, 2008

Entre aquele que só...prefiro ser aquele que não vê!


Quedei-me envolta no silêncio da noite (a minha conselheira, por sinal). Escutei as vozes das aves que teimavam em não se calar. Ouvi os lamentos da vizinha que chora como uma criança, sem saber o motivo, mas tentando adivinhá-lo. Parei para pensar no que me disseste... Não empregaria a palavra "fragilizada", diria antes que estou entristecida. Entristece-me verificar que aqueles cuja irresponsabilidade se vê à distância, são premiados, mantêm os seus cargos, sobem, são aplaudidos. De que me serve a responsabilidade, a busca pela elevação, o trabalhar com afinco? Estarei errada ao não fazer uso da hipocrisia, da mentira, ao não compactuar com a ilegalidade, em querer manter uma conduta ético-moral? Tenho verificado que a inteligência, a sagacidade, o trabalho, não interessam, muitas vezes. Interessa muito mais que se façam as vontades todas aos que chefiam, se dê graxa e distribuam sorrisos amarelos; sejamos cegos, pouco inteligentes, dados a mimar com rosas, cafés, jantaradas os que podem decidir o nosso futuro.
Não sou assim, não consigo compactuar com falsos laxismos, sei calar para evitar problemas de maior, mas não posso conceber que o esforço, a labuta, a dedicação sejam relegados para segundo plano. Irrita-me, ainda mais, que se brinque com a vida das pessoas, que se calem decisões, se mantenham firmes convicções vis....
Devo ser de outro tempo, de outro mundo. Mas entre aquele que só pensa no seu umbigo e aquele que não vê, prefiro ser aquele que não vê!

domingo, junho 15, 2008

Lembrança de um sorriso aberto e sincero


Demorou, eu sei. Demorou a chegar o vento que te empurrou para fora do mundo cruel em que te viste mergulhada por tempo infinito. Não terão sido muitos anos, mas foram os suficientes para que cada segundo contasse como uma infinidade. Uma infinidade de sofrimento, temor, dor, angústia. Foram anos de tormentas, de lutas travadas. Algumas pareciam perdidas e foram-no, de facto, outras acabaram por ser vencidas. Não existiu nada que nos ocorresse que não tivessemos tentado. As palavras apareceram vãs, os gestos, que para nós faziam todo o sentido, perdiam-se, irremediavelmente, na máxima subjacente à acção e por ali permaneciam. Era com prazer e força renovada que o sorriso se abria a cada obstáculo ultrapassado.

Hoje, na distância que não se apaga, nas distâncias tantas a que acabamos por nos votar, ignoro ainda o teu verdadeiro eu, o motivo, a desdita, o fado, mas acima de tudo os teus últimos dias. Percorro a tua história de vida e consome-me saber que partiste sem ninguém ao teu lado; não porque não quisessemos estar junto de ti, mas porque escolheste caminhar sozinha. Até ao dia em que pelo telefone nos foi anunciada a tua caminhada para outro lugar que não este.

Sabiamos que te encontravas doente, essa foi talvez a última notícia que nos deste em pessoa; sabiamos, também por ti, que irias necessitar de tempo para ti. Na altura não percebemos o porquê de tanta mudança. Insistiamos em, continuamente, tentar contactar-te por telemóvel, mas verificamos ser impossível, porque as chamadas eram todas reencaminhadas para o voice mail. Procuramos-te na última morada conhecida e nem a tua mãe sabia de ti.

Indago o motivo que te levou a carregar essa dor sozinha, mas aceito-o. Não posso, no entanto, negar que gostaria de ter podido estar a teu lado, que me incomoda saber que partiste sozinha, quando tantos te amavam e queriam bem.

Só agora compreendemos a fúria, a raiva incontida, o desânimo e a revolta. Tal como muitos, pensaste que só aconteceria aos outros. Tinhas parceiro certo, eras-lhe fiel, confiavas nele. A confiança cega não te deixou ver além, como não deixa a ninguém na maior parte das vezes. Entrou na tua vida para te fazer sorrir e saiu dela destruindo a tua e a dele. Actos impensados que te condenaram a contactar com a fria realidade do mundo da SIDA.

Amiga... e nós que nunca desconfiamos...nós que nunca pensamos que a tua doença fosse essa... e eu que continuo inquieta por saber que partiste sozinha...

Permanecerás para sempre TU. A nossa lembrança: o sorriso aberto e sincero.

sábado, junho 07, 2008

As lavadeiras...


Nas águas cristalinas dos rios, nos tanques comunitários, as mulheres juntavam-se para lavar a roupa. As lavadeiras foram imortalizadas na "Aldeia da Roupa Branca".

Nos rios, as pedras serviam para esfregar a roupa, e escutar as mágoas de quem se juntava para a lida. As lavadeiras deste Portugal cantavam cantigas de rara beleza; os encontros nas comunidades serviam não apenas para cumprir as obrigações da lide doméstica, mas também para matar momentos de solidão (de mulheres que viram os maridos e filhos partir para a guerra ou emigrar), para chorar a dor, a mágoa e a tristeza da dureza dos dias.

Recordo idas ao rio em que me cruzava com as mulheres que lá lavavam as suas roupas, enquanto os maridos e filhos cultivavam os terrenos íngremes ali próximos. Não vai assim há tanto tempo...

Existirão ainda lavadeiras? Na minha terra natal, onde a desertificação deixa marcas, ainda se lava roupa à mão no tanque comunitário da "fonte". Em Braga, na freguesia de real, 20 mulheres vão ao tanque lavar a sua roupa. Para mais saber: http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Braga&Concelho=Braga&Option=Interior&content_id=955328

domingo, junho 01, 2008

Uma lenda...a lenda das minhas gentes...