quarta-feira, março 03, 2010

Sonho


A pedido de uma amiga muito especial, aqui fica um poema de eleição. Para ti Sol, demorou mas chegou. Para a tua pergunta tenho apenas uma resposta, esta: passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer, a amizade manter-se-á. Agarra-te à lembrança das tormentas que superámos juntas, aos sorrisos abertos que demos, à tardes passadas em amena cavaqueira, ao muito que a vida ainda tem para te dar. Mas acima de tudo recorda o grito de guerra que a Sofia nos ensinou, quando a montanha russa nos fez sentir perdidas e nos obrigava a temer alguém que algures no sul se mantém intocável. Sonha Sol, acredita como eu acredito que vais vencer.

Para ti Sol:




Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Tenho andado um tanto ou quanto absorta em mim, embalada por uma avalanche de pequenos contratempos, que têm sido factor de preocupação acrescida. Procuro, por isso ocupar todos os compartimentos do cérebro, para evitar conjecturar. Quando vejo que estou a ir abaixo e penso em falar sobre um ou outro aspecto, dou o passo e volto atrás. Chegada a casa dei conta que me apetecia soltar um grito, não o fiz para não ouvir reclamações dos vizinhos (a minha veia humorística ainda aparece). A irritação está à flor da pele, assim como o suspiro pronto, e hoje, pela primeira vez desde que estou por estas paragens, senti-me escorregar nas areias movediças. Hoje, pela primeira vez, enquanto falava com uma pessoa que se tornou, para além de colega de trabalho, um amigo que admiro e estimo, senti a lágrima presa, enquanto falava de trabalho... Os fantasmas ainda pairam, continuarão a pairar, a aparecer, far-me-ão quedar, mas não desistirei de continuar a erguer-me.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Desejos

Sentada no aconchego do lar, com a lareira por companhia, vou escutando e vendo a chuva a cair, intensamente, lá fora. Faz frio, é Inverno filha, diria meu avô a uma afirmação destas. "É tempo dele!", acrescentaria ainda. A conversa prolongar-se-ia, estou certa, contar-me-ia histórias do passado e falar-me-ia no futuro. Eu escutá-lo-ia com toda a atenção, deliciar-me-ia com as suas histórias e deixar-me-ia levar pela imaginção, criando eu própria os cenários que ele me indicava. Eram momentos belos, de uma beleza incalculável. Com o aproximar do fim de mais um ano, recordo momentos, gestos, pessoas que me marcaram. Lembro-me de episódios vários, de sons e cheiros e deixo no ar, pela escrita neste blogue, os meus desejos para 2010:
Espero conseguir a serenidade depois de uma tempestade que se prolongou por dois anos, continuar a vencer a luta contra a tristeza que silenciosamente me invadiu e me agrilhou. Espero conseguir continuar a trilhar caminho na profissão que me escolheu, estes são os meus desejos para mim. Aos que me visitam, aos meus amigos e colegas (sim, porque faço distinção entre uns e outros), os meus votos são estes:
Que os sonhos não desapareçam, que os obstáculos vencidos soem a vitórias, que vejam os erros como uma aprendizagem! Não se esqueçam de dizer e mostrar que amam, que gostam, afinal o tempo é curto! Que 2010 seja o melhor possível.
Até lá, um bem haja!

quinta-feira, dezembro 24, 2009

sexta-feira, dezembro 11, 2009

...

Não sei porquê, mas hoje estou com a nítida sensação que deixei sair uns quantos impropérios. Pronto, não é sensação, é a realidade. Quem não faria como eu? Acordei com um telefonema de me pôr a bradar aos céus, melhor dizendo, de mandar tudo para outro lado, à boa moda do norte. Ou então não, ignorar, como se isso fosse possível em mim. Até eu me rio com a minha capacidade de ignorar. Muito amo ou odeio, este ser esquisito (eu). Depois, seguiu-se uma leitura dos jornais, já que só vejo televisão ao fim-de-semana. Mal abri as primeiras páginas dos jornais, fiquei irada, pensei de mim para mim: este mundo, em vez de evoluir retrai-se, vive de soberba mesquinhez. Não é só a crise financeira, a nível mundial que me assusta e me deixa seriamente preocupada com o futuro, mas a tacanha mentalidade que ainda se vive em pleno século XXI. Para perceberem a minha ira, aqui fica a notícia:
"A vida dos homossexuais no Uganda está seriamente ameaçada com a preparação de uma nova legislação que prevê a pena de morte. A família e os amigos podem ser condenados até sete anos de prisão se não denunciarem às autoridades os casos e até os proprietários de imóveis podem ser presos se alugarem casas a gays.
Os activistas pelos direitos dos homossexuais já vieram condenar a legislação, que tem merecido a contestação internacional, considerando que promove o ódio e é um entrave ao combate contra a sida no país. Para os activistas, trata-se ainda de uma reacção de um movimento retrógrado ao crescimento de visibilidade dos homossexuais no continente africano.
As medidas foram apresentadas depois de um grupo de líderes conservadores norte-americanos terem visitado o país, onde apresentaram terapias para converter os gays em heterossexuais. Ainda assim, dentro deste grupo de católicos há críticos da nova legislação.
As novas regras têm ainda de ser debatidas e votadas, mas os activistas gays acreditam que as novas regras vão ser aprovadas."
Decididamente não consigo perceber estas fobias, nem quero tentar percebê-las, em boa verdade tenho de o dizer. Não consigo conceber que se condene à morte quem quer que seja, muito menos, quando se condena porque sim, porque são pessoas diferentes. E os Norte-americanos que tanto apregoam e se orgulham da sua estátua da liberdade, são afinal os que mais oprimem, mais ideias ignóbeis têm, que fazem jorrar leis que mostram uma clara soberba pelo poder, quase a demonstrar uma veia purificadora, que me faz lembrar algo já passado na História recente. Assusta-me lembrar que durante anos, os surdos forma maltratados, votados ao esquecimento, ostracizados, lhes agarraram cordas aos pescoços simplesmente para ver se os obrigavam a falar. Foram vistos durante anos como pessoas sem faculdades intelectuais, sofreram horrores para serem, tardiamente, a meu ver, vistos como seres humanos. Valha-nos que hoje isso já não acontece, que os incluimos na sociedade. A cadeia de valores, que se desejava evoluisse está hoje submersa, invertida. Pesa o eu, a aparência e o Ser, onde está? Esse é aquele que deve imperar, digo eu.
Não me alongo, caso contrário ficaria aqui a discorrer longas horas sobre o tema, até porque o essencial já foi exposto.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Desabafo

Pelas ruas do passado calcorreio caminhos e a alma fica presa num passado presente. Diz-me minha alma para onde posso ir, quando saio de ao pé de mim e vejo que no sopé da montanha o receio torna? Alma, minha alma, diz-me que errante sou? Diz-me quem pode ter traçado um destino tão incerto? Alma, minha alma, diz-me porque procuro o que não encontro? Diz-me por que sou tão misteriosamente uma incógnita?
Tantas voltas, tantas horas debruçada sobre o amanhã...e esqueci-me de te dizer: "gosto de ti". Como pude esquecer-me de soletrar levemente palavras simples e sentidas, não o sei. Estava presa a mim mesma sem me conhecer. Esqueci-me de mim, de viver, de sonhar e acreditei, veementemente, que pouco me estava já reservado. Neste presente que me é dado, começo a deixar que aquilo que me foi proibido, torne. Desbravo ainda caminho, mas torno, começo a lembrar-me de mim, dos outros. Desfolho páginas perdidas na memória e vejo que me esqueci de te dizer: "gosto de ti". Perguntar-me-ão como foi possível? Quando nos encerramos em nós, o nosso mundo é o nosso terreno sagrado, o que está fora de nós é o profano que nos engole. Só na nossa própria segurança, que é afinal insegurança, nos sentimos seguros. Pode alguém compreender isto? Não, apenas quem já o viveu e teme que possa voltar. Hoje, minha amiga, lembrei-me de te dizer: "gosto de ti". Deixei de ter medo de mostrar os meus sentimentos. Consegui quebrar mais um obstáculo... consegui vencer mais uma etapa. Depois de ter estado encerrada em mim durante 2 anos, conseguir dar estes pequenos passos, que para mim são grandes, é uma vitória.
Passo a passo vou-me permitindo aparecer, mas não nego que continuo com receio de que a tristeza me invada. Como um pássaro voei, sai do meu porto seguro, mas renasci!

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Homo...hetero...afinal somos todos iguais!

O fogo queima, pensamos que nunca nos acontecerá, que o amor é desigual e não conseguimos ver além. Percorro as ruas do meu imaginário, encontro nelas momentos desperdiçados, sonhos desfeitos, crenças que de tão inabaláveis quebraram. Estou aquém, as forças tomam-me de assalto e facilmente transparece no rosto o desânimo. Cruzo as ruas por tempo suficiente para perceber que a cada esquina espreita o preconceito. Quando de repente toca o sino da igreja, fora de horas, paro e deixo que o meu olhar se quede no nada. Quantas vezes subimos vãos de escada para mais rapidamente os descermos? Travamos batalhas contra os nossos pensamentos mais aterradores, desejamos que nos ouvissem? Antes de iniciarmos uma batalha importa procurar conhecer o campo em que a vamos travar. Irritada será, porventura, o adjectivo que caracteriza o meu estado de espírito, nesta minha viagem por estas ruas. Levo como acompanhante a lua e os meus pensamentos soltos.
Pergunto-me: e se eu tivesse o condão de escrever os vossos nomes em cada estrela? E se eu pudesse ter o condão de poder continuar a limpar as vossas mágoas? E se eu pudesse memorizar cada palavra que o Ricardo me foi dizendo? E se eu pudesse ter o condão de continuar a tua luta? E quantos Ricardos não há por aí, esmagados pela torpe mente dos que se julgam normais e condenam à “anormalidade” os que são diferentes?
É preciso um novo começo, é urgente olhar sem altivez, ver na diferença a igualdade. Mais uma vez, aqui estamos, só tu e eu, sentados a olhar o horizonte que se perde, olhar pousado no nada, a discorrer sobre o mesmo tema. Ainda te oiço dizer que a intolerância é própria de quem é fraco de espírito. Olho para ti e só consigo esboçar um sorriso ténue. Quero-te dizer que o meu coração sabe, o que há muito me queres dizer, mas que a boca não deixa.
Mais um dia passa e não consegui que o dissesses. A seu tempo o ouviria de ti. Recordas-te? Nesse ano, dava aulas no Algarve, eram duas horas da manhã, sensivelmente, quando uma mensagem me caiu no telemóvel (ainda sei as palavras de cor): “estou à tua espera. És tudo para mim.” Lembro-me tão bem, como se fosse hoje. Sem delongas, permiti-me responder: “Creio que a pessoa visada não sou eu…que ele te faça feliz e te trate bem.”
Não me dei conta, na hora, do que havia escrito. Poucos minutos depois, ligavas-me, a conversa foi curta: “desde quando sabes?”.
“Sei o quê?” – perguntei.
“Sabes que sou…sou…” - Ricardo
“Se fosses directo ao assunto era mais fácil, certo? Não sei ao que te referes.” – disse
“Aquilo da mensagem...que namoro.” – Ricardo
“Sim…que te enganaste no destinatário. Desejei-te felicidades, é por isso?”
“Obrigado.”
Desligaste o telefone. Sem perceber a conversa decidi verificar a mensagem. Só ai percebi que, a minha espontaneidade, tinha conseguido aquilo que até então a nossa amizade ainda não tinha alcançado.
Passado alguns meses, fomos tomar café, juntos. Deixei que fosses tu a falar, mas só conseguiste dizer-me: “obrigado por me aceitares pelo que sou.”
Hoje, alguém me disse: O Ricardo é homossexual sabias? (a forma como foi dito matou-me).
Sabes como respondi (sei que sabes, à moda pronta): E depois? Já viste a tua sorte, sobram mais mulheres para ti…
Na diferença encontrei a segurança de um ombro amigo, na diferença encontrei a igualdade. Somos todos diferentes. Quem está mais certo Ri, eu que sou diferente de ti ou tu que és diferente de mim? (esta é a nossa pergunta de eleição).
Homossexualidade é apenas mais um conceito.
Heterossexualidade é apenas mais um conceito.
Amizade, respeito, tolerância, aceitar a diferença como parte integrante de cada um (afinal somos todos diferentes, seres únicos e irrepetíveis), isso sim é premente!

quarta-feira, novembro 25, 2009

Na penumbra do deslumbramento...


Oriento-me na penumbra do deslumbramento que desconheço, mas que anseio me toque, fazendo-me dançar ao som da minha cultura. A vida às vezes leva-nos a lugares ermos, que pensávamos remotos, mas quem tem coração encontra sempre uma brisa, nem que seja leve, para se erguer dos grilhões que por momentos nos prendem. Há-de vir o dia…pensamos sempre. Às vezes não vem quando desejamos, tão pouco o vemos prestes a chegar, não sabemos bem o que esperar e na nudez a que nos vemos obrigados, vestimos o xaile da vontade. Sem este xaile não há como vencer, como percorrer o nosso caminho, como ultrapassar os muitos infernos que nos são dados viver.
Quantas vezes já não adormecemos na saudade, no relembrar de tempos que já vivemos e que tornam? Quantas vezes já desejámos? Já olvidamos? Quantos invernos vivemos? Quantas primaveras não quisemos viver?
E aí queremos não ter esperança, não queremos lembrar as marcas existentes no nosso coração, esquecemo-nos de nós e deixamo-nos embalar na aguarela da saudade. Na sentença da infância, no seu conforto, desejamos permanecer, como se fosse possível… e a saudade, a nostalgia cavalga…e não vemos, porque não conseguimos, pois à nossa volta o mundo desmorona-se, sentimos que o que construímos está em ruínas, que as plantas morrem de sede, que abrimos mãos de nós e de tudo o que faz parte do nosso horizonte.
O tempo passa, a surdez impera, a vontade de nos erguermos da cama não aparece, deixamos de ver…sentimos uma dor lasciva que nos impede de tanta coisa e não sabemos explicar o porquê dela existir. As lágrimas correm, a irritabilidade aumenta, a vontade de recomeçar desaparece e queremos descobrir o mistério dessa dor. Ao luar sentimo-nos mais livres, afinal estamos sós com o silêncio que deixamos que se apoderasse de nós. Dizemos tantas vezes: ai se eu pudesse…
Queremos que o mundo nos engula, que a terra pare de tremer, que a cabeça deixe de estar oca, queremos ser alquimistas, mas não queremos que a realidade seja esta, porque não a vemos como os outros a vêem… E como as folhas que caem durante o Outono, tememos sempre que ela regresse em força. Esta coisa “maldita”: a depressão.

Nota: porque já a vivi de perto e foi assim que a experienciei….

sexta-feira, novembro 20, 2009

Discorro...

Perdi a noção das horas, deixei-me vencer pela necessidade de pôr a descoberto o que a alma encerra. Às vezes permito que a razão fique de parte, relegada para um plano secundário, e dou asas a que o sentimento que me invade discorra sobre o teclado. Será, porventura, um modo de catarse, pelo menos assim o desejo. Kant considerava o desejo nefasto, assim como o sentimento de compaixão. Confesso que dou comigo, muitas vezes, a concordar com ele no que à compaixão diz respeito, os motivos dessa minha concordância são ambivalentes e por isso não me detenho a tecer mais considerandos sobre o assunto. A verdade porém é que se hoje sorrio despregadamente, me sinto viva e com coragem suficiente para vencer obstáculos, há relativamente pouco tempo isso não sucedia. Foi uma altura em que entre o abismo e eu havia uma linha ténue. Um época em que a loucura insana e a realidade se passaram a confundir, onde acordar era penoso e caminhar doloroso. O mundo, as ruas cheias de gente faziam-me confusão e o medo de dizer, pensar ou ousar me acabrunhavam.
Passado esse período e tendo encetado por um novo caminho a 1 de Setembro deste ano, o medo da liberdade ainda espreita, mas o sorriso voltou e pude voltar a ser somente eu. Por quanto tempo poderei almejar a ser somente eu não me interessa. O simples facto de ter renascido por este período já valeu a pena. Passei a adorar as viagens entre o Ribatejo e o Norte. Voltei a ter saudade, a ter vontade de acordar... hoje desejo continuar a fazer estas viagens. E porquê? Porque aqui, neste recanto ribatejano, foi-me permitido voltar a acreditar em mim, foi-me permitido viver. Até o cheiro nauseabundo dos curtumes é suportável. E no Norte tenho o meu porto seguro, que brindou de forma eufórica o reaparecimento do meu sorriso.

terça-feira, outubro 20, 2009

Vielas suas...


Disseram que nascera no local errado, talvez até à hora errada, que perante este cenário apenas o choro lhe era permitido. Caminhava perdido em si, perguntando-se o que poderia ter feito, questionando a sua sina. Fechava os olhos e perguntava-se porque não tinha melhor condição.
Partido o coração, afastava-se de si mesmo, caindo na crença de que vida mais mísera do que a sua não havia. Desconfiado, de coração duro, tomou as vielas da rua como suas, nunca disse adeus. Era ainda uma criança que desejava, a todo o custo, recomeçar, renascer, ter sonhos. Achava que era o fim da linha, que nenhum novo começo surgiria e assim foi calcorreando as ruas da cidade e as suas vielas até as saber de cor.
Sonha, sonha e verás que os sonhos são o melhor que podes ter, dizia de si para si. Levavas as mãos à boca e ansiava por uma vida diferente… sentado no meio da multidão que passa no seu frenesim diário, só queria que alguém o visse, o olhasse, desse conta que existia. Quando um olhar desconhecido se cruzava com o seu, estremecia, desconhecendo se era esperança, se temor.
Assim, perdido nas vielas estreitas, a desconfiança e os sentidos apuram-se. Olhava as estrelas, sempre à espera que lhe tocassem o coração, memorizava os passos, os rostos dos que por si passavam, até sabia os seus ritmos diários, mas ninguém o via.
Nobre coração, o de “vagabundo” e ninguém o sabia. Braços abertos à cidade, olhos fixos no movimento do todo, sabia de cor as pessoas, conhecia-as como talvez nunca elas próprias se venham a saber um dia e ainda assim, invisível.
Um sorriso, uma palavra apenas, fazem o coração solitário deste homem encher-se de alegria. Mas caminhamos demasiado envolvidos com as nossas preocupações, com o nosso ritmo de vida alucinante, encerrados no nosso egoísmo que nos esquecemos de olhar à nossa volta, de ver com os olhos do coração.

terça-feira, outubro 13, 2009


Canta com a expressão de quem ousa pensar por si. Ouve o sonho e sabe que só a alguns é oferecido ler o mais íntimo de si. Que adianta saber as marés a quem só vive dos seus engenhosos oficios?

E assim errante, já cheia de andar calada, deixa poisar o olhar sobre a imensidão que desperta da sua janela e por dentro sente o peito que vibra, sacudindo o medo... Lê poesia, faz poesia, deixa cair a máscara de dureza e retorna a si. Permite-se entrar no barco, ancorado no mar que só ela vê... âncora fora, parte olhando, absorvendo a vida que se estende. Escuta a voz que lhe diz: "aproveita-a, deixa que ela te toque." Porque Nuria não quer pactos e alianças, elas são bom remédio para quem não quer ver além do seu pequeno mundo. Nuria quer ir além de si, sonhar, poder projectar-se...

Olhando o azul do céu que se estende, depressa se apercebe que começa a anoitecer. Algo trémula, lança os olhos sobre a água e verifica que hoje tem um brilho especial. O brilho de quem renasce. Enquanto a mente se admira com a beleza, devolve-lhe a memória os rostos das gentes que ficam indelevelmente ligadas à história de vida de cada um. Correm à sua frente imagens de inequívoca raridade e solta um sorriso aberto, porque toma consciência que também ela tem uma história de vida por fazer, que sempre que o vento e a chuva lhe aparecerem tratará de lhes fazer frente. Porque Nuria escreve a cada dia que passa o seu livro, a sua história de vida, imprimindo-o nas rugas que começam a aparecer, no corpo que começa a sofrer alterações, na forma desprendida com que dá o seu melhor a cada tarefa que realiza. Nuria atravessa o mar, lança o olhar mais uma vez sobre a imensidão de beleza e sussurra aliviada.

domingo, outubro 11, 2009

Na minha (des)nudez

Despojo-me de vestes e exponho-me como outrora ousei fazê-lo e porque o faço, perguntam-me os meus elos (amigos) de sempre. Porque voltei, renasci... ainda que possa vir a retornar àquela concha bem apertadinha, bem fechada que bem conheceis, não deixarei de contar aos quatro ventos, que pude erguer-me, voltar a ser eu durante este período de tempo. Não cedi, não dobrei, não deixei que os meus princípios, os meus valores, aquilo em que acredito, fossem vencidos. Permiti-me a "humilhação", que me indicassem caminhos seus como meus, mas não olvidei por um segundo de que o valor das coisas está na sua essência e não na aparência. Choro a incapacitante algema que me devorou por tempo suficiente, porque não me permitiu dizer basta, porque me prendeu numa redoma de pedra, de tal forma que me obrigou a afastar de mim, dos meus familiares, dos meus amigos (irmãos) para poder retemperar forças. Não quis medicação, recusei-a. Chorei muitas vezes, barafustei, estive perto da loucura, perto de me perder. Cheguei a quedar-me na cama, a abeirar-me de pôr termino a mim mesma, de desistir...perdi-me em estradas que tão bem conhecia, estive em locais que sabia de cor, mas das quais não pude sair, porque a mente se opunha a reconhecer os trajectos... mas continuei, diariamente, a ir para a labuta. As baixas não fazem parte do meu vocabulário. Pedi ajuda, é verdade, mas a melhor ajuda que recebi foi a dos meus eternos seis guerreiros, a quem devo muito, que amo de coração. Os meus maiores amores, os meus anjos da guarda de uma vida, nunca me abandonam à maré. Passamos tanto e tão pouco simultaneamente... que nunca, jamais, será demais honrá-los. Hoje estou feliz, nas palavras deles "depois de 2 anos encerrada, renasci", mas convém dizê-lo renasci porque vos tive em sorte, porque sois únicos, porque me sabeis de cor. Se inumerasse os porque seriam intermináveis, tal é a minha gratidão. Porque vos amo, o meu sincero obrigada! Meus amigos, meus irmãos, sem vós a vida não tem arco-iris algum. A vós: Hugo; Sérgio Monteiro; Sérgio Fonseca; Vera; Olguinha; Quim (meu anjo); o meu amor eterno e desprendido! Um obrigada não é ainda assim suficiente para vos dizer o quanto significais para mim. Amar-vos é um gesto brando tendo em conta tudo quanto temos atravessado juntos. Amo-vos!

sábado, outubro 03, 2009

Hoje deixo-vos com uma sugestão de leitura: "A Sombra do Vento". Uma obra magnífica, um livro dentro de outro, onde as personagens se misturam num enredo brilhante. Um escritor que versa sobre outro, maravilhosamente, que ousa ingressar no mais íntimo das personagens que nos traz a lume. Um livro que demonstra a amizade entre um sem abrigo, que outrora teve família. A solidariedade, a amizade pura, mostrada no gesto e coração de oiro de Daniel, que vê em Fermín Torres algo mais do que a simples aparência "moribunda".

Julian Carax é delicioso, um misterioso escritor que se vai desvelando ao longo da nossa imaginação. Barcelona aaprece-nos sobranceira em tempos idos, reconhecemos nela a devastação do pós-guerra, a ira, a sede cega de vingança, a corrupção trazida pelas mãos de Fumero. Podemos vivenciar os momentos chave de cada personagem como se fossemos os próprios, sentir o mesmo que eles e perdermo-nos pelo "Cemitério dos Livros Esquecidos".

Para abrir o apetite, uma citação, entre outras, que me deixou a pensar:

"Nada alimenta o esquecimento como uma guerra. Todos nos calamos e as pessoas esforçam-se por nos convencer de que aquilo que vimos, aquilo que fazemos, o que apreendemos de nós próprios e dos outros, é uma ilusão, um pesadelo passageiro. As guerras não têm memória e ninguém se atreve a compreendê-las até não haver vozes para contar o que aconteceu, até chegar o momento em que já ninguém as reconhece e regressam, com outra cara e outro nome, para devorar o que deixaram para trás."

A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafon é, de facto, uma história inesquecível.

quinta-feira, outubro 01, 2009

De regresso

Depois de um longo período de hibernação, eis que me convidei ao regresso. Foram meses de distanciamento, necessários, onde muitas novidades foram surgindo, onde as transformações foram uma constante.
Foi um tempo árduo em alguns aspectos, mas que serviram para que pudesse retemperar forças, equacionar soluções, cogitar hipóteses, prever alguns acontecimentos e deixar-me, simultaneamente, conduzir pelo instinto. Mais uma vez fora do meu conforto familiar, do meu ninho. Mas como qualquer pássaro necessitei voar por mim, pelos sonhos partilhados. O voo este ano levou-me a uma nova paragem: o Ribatejo.
Serão estas planícies que me servirão de fonte de inspiração, doravante, enquanto pouso o olhar sobre ela e vejo para além dela.
Até amanhã...

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Dita-me a consciência que me afaste da escrita, deste blogue, não porque não continue amar a palavra ou porque me tenha abandonado a sofreguidão de deixar a alma discorrer sobre o teclado. São motivos pessoais e profissionais que me fazem abandoná-lo por tempo indeterminado. Neste momento e ainda que procure manter viva a memória do que sou, não consegui ainda dar os passos necessários para um reencontro, para além de outros factores. Diria que as forças se esgotam sem que nos demos conta, definhamos numa dor, numa tristeza que nos amarra ao silêncio de nós mesmos muitas vezes e por muito que procuremos saídas, respostas, vamos embatendo sempre num muro que parece intransponível. Quedei-me na sorte de me abandonar à mercê de um sentir que vai deixando escapulir as poucas forças que a sustentam. Procurei, até hoje, socorrer-me de mim mesma apenas, para conseguir sair das guerras e vencer os obstáculos. Não busquei ajuda de nehuma especialidade, apesar de verificar que desde há algum tempo a esta parte, me sentia profundamente triste, sem vontade de dirigir palavras às pessoas, cansada, frustrada, esgotada, mas acima de tudo fria, sem projectos, sonhos ou vontade de ir além. De há uma semana para cá verifiquei que perdi peso, sinto repulsa por elogios ou demonstrações de carinho, que me custa dar um beijo ou um abraço. Tenho sentido uma fraqueza pouco habitual, tendências para desmaios e tem-me sido dificil levantar. As alterações de humor vão do silêncio para a explosão quando me chamam. No trabalho não quero ouvir as vozes e em casa fecho-me em mim. Hoje acordei com a sensação de vazio completo, quis lembrar-me do que tinha de fazer e não consegui, sai com uma sensação de levar o mundo nos ombros, entrei e sai triste de casa. Fiz uma viagem de noite e a cabeça parecia estar oca, vazia. Creio que tenho de encetar por outro caminho e procurar em definitivo a ajuda de um profissional. Às vezes pergunto-me o que me terá levado até aqui. Não sei, mas estes últimos anos têm sido marcantes: a perda do meu padrinho, meses depois a perda do meu avô, a crise de uma relação, a perda de um dos meus melhores amigos, o "assédio" de gente com poder, o diagnóstico de uma doença rara, a doença de um amigo, o sofrimento de uma segunda mãe, a inadaptação às mentalidades, a solidão, o não poder ser eu...talvez tenha deixado que tudo se juntasse e talvez isso me tenha feito perder... A verdade é que não sei o porquê, sei que me corrói a tristeza e me abandono na imensidão do não saber quem sou...
Até lá...

terça-feira, fevereiro 17, 2009

O dia D...

O dia ergueu-se com uma suavidade plena de sentido para Manolo. O sr. Pereira trouxe, finalmente, a boa nova. Manolo iria trabalhar com ele, iria ser moço para todo o serviço que fosse necessário fazer no pequeno comércio. Vestiu-se à pressa, as calças rotas, os tamancos enfiados, mãos nos bolsos para esconder o nervosismo. Subida a rua, chegado à loja do Pereira, as pernas tremiam como varas verdes, esperou as ordens, cumpriu-as. No final de um dia de muitas lides, não se sentia cansado, mas com vontade de fazer mais. Depois de expor a mercadoria, atender o melhor que sabia os clientes, guardar as coisas que estavam expostas cá fora, ter limpado o chão, varrido o passeio em frente à mercearia, entre outras coisas mais, impelia-o a vontade de singrar, por ora aqui.
O Sr. Pereira não precisava de um empregado, mas sabia o que custava a vida, tinha já amealhado algum e desejava ajudar o máximo de pessoas que podia. Era um homem raro, que na surdina apregoava contra o governo, que desejava a liberdade, que não temia por si mas pelos seus. Não sabia porquê e confessou-o anos mais tarde, mas Manolo inspirava-lhe confiança, parecia-se com ele e disse-o, já velho e cansado demais para continuar por cá, que apostava nele como se fosse seu filho.
Manolo ficou a trabalhar com o Sr. Pereira durante alguns anos, criando uma verdadeira amizade. De tal forma que diz, ainda hoje, Manolo que "Pereira foi como uma árvore, que me prendou à vida e me impeliu a ramificar".

terça-feira, fevereiro 03, 2009

esperança...

Manhã cedo, raiava ainda mal o sol, Manolo estava já à porta da pequena pensão. Esperava por notícias do senhor Pereira, ansiava pela sua chegada, olhava a esquina da rua, estendendo o mais possível o olhar. O coração estava imparável, de tal forma que o simples acto de respirar se tornava custoso. O tempo foi passando, a amnhã estava já a meio, quando se deu conta da posição do sol. Decidiu esperar até ao meio dia. Se o Sr. Pereira não aparecesse até àquela hora, tinha decidido por-se, mais uma vez ao caminho.
Com os tamancos calçados, percorreu outras ruas do Porto, olhou a estrutura das casa, fixou-se nos rostos que via, desenhou percursos, bateu a várias e portas. No fim do dia, cansado, desgastado, com fome e sem nada para comer, subiu para o seu quarto. Abriu a mala de cartão e olhou-a com atenção. O dinheiro começava a escassear, já só tinha mais algumas moedas para fazer frente a mais dois dias, se tanto. acomodou-se o melhor que pôde na cama, fixou o olhar no nada e deixou-se embalar pelos seus pensamentos.
A esperança, essa, guarda-a para amanhã...

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Assim...



Hoje, Manolo descansa ainda da sua caminhada, retoma-la-á logo que me recomponha desta maldita gripe que já me obrigou a uma ida às urgências em plena madrugada. Pensava eu, na semana passada, que já estava bem, porque até não não tinha dores e eis que veio em força, novamente, esta semana. Pareço um zombie com estas olheiras enormes, pois como não as haveria de ter se passo a noite a espirrar e a tossir? Mas, Manolo refaz-se da sua canseira também porque tenho de me despedir, infelizmente, de mais uma pessoa que fez parte da minha infância, adolescência e vida adulta. Dona Alice parte cedo demais, depois de uma vida, nos últimos anos com muitas perdas familiares. Ontem, o telefone de casa tocou a uma hora pouco habitual e o coração parecia adivinhar o que havia sucedido. Depois da notícia pesarosa, marquei o número da Joca e lá lhe disse: "não sou boa nestas horas, por isso resta-me deixar-te um beijo de amizade sentida." Adeus D. Alice, que a paz a acompanhe! Jamais esquecerei o seu sorriso e os braços abertos para me receber...

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Seis coisas sobre mim...

Costumo dizer que por muito que busque falar de mim nunca o faço de forma objectiva, no entanto faço-o sempre de forma realista e emprego o melhor de mim para que me conheçam. Não obstante, aquilo que somos no mais intímo de nós mesmos fica sempre aquém de qualquer coisa que consigamos transpor para os outros, porque é essência. Assim e porque me foi lançado um desafio, falar de mim, aqui vai. Espero não desiludir a Clara B do enigmaeoespelho.blogspot.com.



1. Adoro o campo, o cheiro a terra molhada e as rugas da minha avó. Esta tríade é-me essencial, cada uma pelo seu motivo. O campo faz parte da minha infância, onde cresci ao som da liberdade e das brincadeiras próprias da vida numa pequena aldeia, hoje desertificada. O cheiro a terra molhada porque me me faz lembrar a sonoridade prória da terra mãe. As rugas da minha avó porque nelas está também inscrita a minha história.



2. Sou pessoa de poucos amigos e defendo sempre que não os selecciono, mas creio que são eles que me escolhem, na medida em que me conferem a confiança necessária para ir além de mim mesma e de me poder mostrar como sou, sem ser, para isso necessário, vestir máscaras. Considero aqueles que são meus amigos parte integrante de mim mesma.



3. A ética e a moral acompanham-me vida fora e talvez por isso tenha alguns dissabores, mas contínuo a preferir reger-se por princípios valorativos fortes do que não os ter.



4. Adoro ler. Adoro literatura que faça pensar, que eleve. Sou apaixonada por poesia e filosofia. E se no que busco encontrar resposta não a encontro parto para outro ponto para ver se ele mo dá. Adoro Irvin Yalom, Milan Kundera, Saramago, Mário Sá Carneiro, etc.



5. Prefiro que as pessoas não saibam o meu nome, a que queiram viver a minha vida por mim. Odeio a intriga e pessoas mal formadas.



6. Sonho que o ensino em Portugal mude. Que o facilitismo exacerbado desapareça e que possamos ter gente capaz de nos governar futuramente.
Agora Passo o desafio a:
Para responder ao desafio os passos são estes:
Linkar a pessoa que me indicou.

Escrever as regras do meme no meu blog.

Escrever seis coisas aleatórias sobre mim.

Indicar outras seis pessoas e colocar os links no final do post.

Informar as pessoas que as indiquei deixando-lhes um comentário..

Oa tamancos de Manolo...


Desperta do sonho, queda-se o olhar sobre o rio, divaga a mente por inúmeros locais desconhecidos para si. Sabe onde está, o corpo prende-o ao local, mas a mente solta-se para se encontrar num local que desconhece. Manolo, começa a contactar, pela primeira vez, com uma infinidade de novas sensações, com sentimentos e emoções até então fechadas para si. Depois desta paragem, com os pés descalços faz-se ao caminho, novamente. Bate à porta de todos os pequenos comércios por que passa, tem os olhos lassos, os ombros caidos como se carregasse o peso do mundo. Já bateu a muitos locais, falou com muita gente, disse precisar de trabalhar, mas as recusas foram constantes. Já no final da rua do bairro, Manolo bate a outra porta, a última, ainda aberta. Do lado de lá do balcão em madeira gasta, surgiu um senhor alto, forte. O corpo franzino estremeceu ao ver tão proeminente figura. A medo disse: "senhor venho aqui perguntar-lhe se precisa de algum empregado. Faço tudo."

- De onde vens tu rapaz? - perguntou o dono da pequena mercearia

- De longe senhor, de uma terra que o senhor não conhece. Venho de lá, dos lados de Trás-os-Montes.

- E que te levou a vir até aqui?

- A busca de melhor sorte senhor. Preciso de ajudar os meus, e lá de onde eu venho já não há lugar para mim. Se continuar lá vou fazer o mesmo caminho que os meus pais e não estarei a ajudá-los. Só posso ajudá-los se conseguir madar-lhe mais algum...

- Como te chamas?

- Manolo.

- Manolo, o meu nome é Pereira. Diz-me onde estás a morar e logo verei se tenho alguma coisa para ti.

- Moro ali à frente senhor, na pensão ao fundo da rua.

- Vai descansar rapaz, deves ter os pés em ferida. Espera aqui um pouco que já volto.

O senhor Pereira subiu as escadas que davam acesso à casa, que ficava por cima da loja, e desceu com uns tamancos de madeira.

Manolo ficou sem palavras, os olhos toldaram-se de lágrimas, só foi capaz de dizer: "Obrigado senhor, muito obrigado. Mas não tenho dinheiro para lhos pagar."

- Não te preocupes meu rapaz, vai-te lá embora que se eu tiver novidades para ti lá te chamo.

Manolo seguiu para a pensão com os tamancos calçados, invadia-o um sentimento de gratidão enorme pelo gesto daquele desconhecido. Não sabia ainda que o senhor Pereira também já tinha tido 11 anos, já tinha andado descalço e conhecia como ninguém a necessidade. Chegado à pensão, caiu na cama e fixou o olhar no tecto, desenhou mentalmente um cenário e deixou-se enlevar nele. Olhou as mãos mais uma vez e adormeceu na ânsia de acordar com o sr. Pereira a bater-lhe à porta de manhã. Manolo dorme desperto...