Obrigada
Chora a alma, enlevada no breu…A vitimização não faz parte do seu rol de conceitos, erraticamente caminha por entre a multidão que se ergue sobranceira. Cai e ninguém a vê, talvez porque não seja aquela cujas capacidades e personalidade mais lhes diga. Nunca disse não a nada, escutou palavras de pouco apreço e hoje chora, na certeza de que não valeu..
Hoje, deixo que Alexandre O´Neill (poema a seguir) fale por mim, ansiando que as suas palavras vos toquem o coração, como tocais o meu.
Por mais que tente, procure ser feliz neste “éden” (assim o apelidam alguns) não consigo. No que busco não posso ser… e isso dói, não mata, mas vai-me corroendo, deixando-me hirta, sem vontade de acordar e rir. Perdi o sorriso que me caracterizava, deixei de falar, porque vi não o poder fazer. Falo do supérfluo, do que não importa, procurando evitar que as palavras sejam interpretadas como dá jeito a alguns. E nesta teia vou-me enredando, sem encontrar forma dela sair. Não me sinto eu, segura ou certa do caminho que escolhi aceitar… e quedo-me nas horas loucas do meu silêncio, na ira que sai nos momentos em que posso ser, efectivamente, eu. Já não sei o que é tomar um café descansada, sem recear que me vejam ali em amena cavaqueira ou a folhear um qualquer jornal, mesmo que não esteja nas minhas horas de laboração, que digam que sou ou que faço o que não fiz. Sempre disse amar o Norte, apesar deste ser o primeiro ano em que por aqui fiquei a trabalhar, mas se é isto que me é oferecido, quero levantar asas e punir-me na solidão, mas poder ser eu, encontrar-me de novo. Fecho-me em mim, fecho-me em casa, penso para falar, quando falo, fico calada à espera que a consciência se indague se devia ter dito/escrito aquilo, se não irei “levar” na cabeça porque interpretaram, mais uma vez, as coisas como entenderam. Sinto-me triste, invade-me uma revolta imensa, dói-me a alma e turvo começa a ficar o pensamento. Não há espontaneidade possível, pareço uma criminosa que escolhe os locais, neles tem de ver qual é o local mais escondido para evitar que a vejam nos seus momentos de lazer, ver se passa alguém conhecido, justificar o porquê de ali estar… Confesso-me cansada, se para viver a minha vida tenho de a viver em função dos outros, que não conheço, não pretendo conhecer, então não quero vivê-la. Então, prefiro a solidão, a vida de eremita a que me fui habituando, voltar a sorrir, mas acima de tudo a deixar de ter medo de ser quem sou. Detesto as fugas à responsabilidade, que se aponte o dedo sem se ter conhecimento de causa, que se saiba de tudo ou pelo menos se diga saber quando nada sabem. Abdiquei de mim para estar aqui, abdiquei de sonhar, para ser a temerosa rapariga que receia o olhar de terceiros.
Hoje deixo que falem por mim, assim: